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Publicado: Segunda-feira, 4 de julho de 2005

Opção Pelos Pobres e Teologia da Libertação

Ver na Teologia da Libertação (TL) apenas os seus aspectos positivos ou acentuar os negativos, desmerece os que refletem criticamente sobre ela. É certo que os teólogos da libertação brasileiros e latino-americanos levaram a algumas reflexões, ações e expectativas após o Concílio Vaticano II. Não foram poucos os bispos, presbíteros e leigos que se empolgaram tanto pela análise da realidade quanto pelas soluções apresentadas por essa interpretação política da Palavra de Deus e suas implicações na vida da Igreja.

Há alguns anos as editoras católicas divulgavam tudo que se inspirava na TL. Revistas, periódicos católicos e jornais leigos deram amplo espaço aos teólogos, exegetas e pastoralistas dessa corrente surgida após a Conferência Episcopal de Medellín, realizada na Colômbia em 1968. Anos depois a Assembléia dos Bispos Latino-Americanos em Puebla, no México, e entre nós as diretrizes pastorais da CNBB, dos anos 70 a 90, contribuíram para aumentar a influência prática da TL.

As teorias dos teólogos da libertação levaram à organização de milhares de Comunidades Eclesiais de Base, as CEBs, empolgadas pela releitura política da Bíblia, com destaque para o livro do Êxodo. Empolgaram-se pelo social, minimizando a evangelização em seu aspecto mais importante: o anúncio explícito da pessoa, da verdade de Jesus Cristo e da própria Igreja fundada por ele. Por algumas décadas uma análise marxista da realidade, partindo da maniqueísta divisão entre ricos opressores e pobres oprimidos, o incentivo à luta de classes e aos métodos violentos na superação das inegáveis injustiças de nossa realidade, uma linha estatizante e político-partidária de esquerda, predominaram no Brasil e outras nações da América.

Ainda que se desenvolvendo a olhos vistos e com novos enfoques, os Movimentos eclesiais, como o Focolares e as Equipes de Casais, o Cursilho de Cristandade e as Comunidades Neo-Catecumenais, a Renovação Carismática foram marginalizados. A comunhão com os Pastores da Igreja e o empenho na espiritualidade eucarístico-mariana, a valorização da Sagrada Escritura como livro da fé, uma evangelização e catequese centradas no anúncio do Jesus Cristo e nos autênticos valores do Evangelho, opuseram por décadas a TL e CEBs dos citados Movimentos que, desde 1940, fermentaram a Igreja no Brasil e no mundo.

A opção pelos pobres feita pelos teólogos e pastoralistas da TL acabou sendo, infelizmente, exclusiva e excludente, deixando de ser preferencial e evangelizadora para tornar-se agressiva, discriminando os grupos decisórios da sociedade. O empenho dos que se envolveram com a leitura politizada da Palavra de Deus, com as categorias marxistas na análise da realidade brasileira, na superação socializante dos problemas sociais, enfatizou a luta nada evangélica contra as injustiças que pesavam sobre o proletariado urbano e rural e sobre os grupos marginalizados, com destaque para a mulher pobre e negra, os sem-terra, os sem-teto, os desempregados, os indígenas e outros.

Estava na lógica dessa TL de corte marxista não só a agitação social, o incentivo à luta de classes mas, também, o ódio, a violência, o terrorismo e as guerrilhas. A União Soviética, com os países dominados pelo comunismo e Cuba, no coração da América, foram tidos como modelos do Reino de Deus e da nova sociedade a ser gestada e construída.

O que certamente não esperavam os adeptos da TL predominante na América-Latina, foi que exatamente os mais pobres acabariam debandando, aos milhões, para as Igrejas Pentecostais e Neo-Pentecostais. Mais ainda, que a nossa Igreja acabaria vendo distanciar-se dela tantos empresários, grande número de governantes e políticos, as lideranças sindicais. Vivemos anos e anos de “guerra fria”, ideológica, entre o Ocidente e o Leste Europeu. Difundiu-se o “complexo anti-romano”. Aprofundaram-se as distâncias entre a Igreja hierárquica, centralizada na pessoa do Papa em Roma e as Igrejas particulares dispersas pelo mundo.

Merece ser lido o livro “Igreja Popular” do teólogo e bispo Dom Boaventura Kloppenburg por todos que se inspiraram na obra de Leonardo Boff “Igreja, Carisma e Poder”, que lhe valeu uma justa censura da Santa Sé. Felizmente os tempos são outros depois do inesperado desmoronamento do império soviético e do muro de Berlim, depois das Instruções “Libertatis Nuntius” (1984) e “Libertatis Conscientia” (1986), do fecundo pontificado do Papa João Paulo II que deu ao episcopado um novo perfil acentuadamente pastoral e evangelizador.

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