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Publicado: Quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Quando pessoas viram balanças

Venho estudando e trabalhando com conflitos há mais de uma década, e o que vejo me, por vezes me entristece e preocupa. No momento, muito me entristece.

Por alguma razão, no meio do caminho perdemos a fé no diálogo como forma de resolver problemas e conflitos. Depois de perder a fé, paramos de usá-lo, e aí, com o tempo, desaprendemos a fazê-lo. As pessoas não sabem mais usar o diálogo para transcender conflitos.
O entendimento sobre a resolução de conflitos transformou-se em uma balança. Opiniões são colocadas de um ou outro lado, de forma binária, até que a balança penda para um dos lados. Aí vem a fase seguinte: decidir a pena.

Esta é uma forma pobre e iludida de lidar com conflitos. Na realidade, todos perdem algo com ela. O conflito em si não passa nem perto de ser resolvido, e permanece latente, oculto sob a ilusão de ter sido solucionado. Ilusão concretizada no formato da pena. As emoções e angústias geradas por ele permanecem ali, vivas e feridas.

As tentativas de conversar para solucionar tendem a fracassar, pois já não sabe-se mais usar o diálogo. Falar não é dialogar, e pouca clareza vejo nessas discussões. Perceber que não sabe-se dialogar também é difícil, pois implicaria em ver algo que não se consegue mais enxergar.
É preciso retomar as formas dialogadas de resolver e transcender os conflitos, e para isso precisa-se aprender a pedir ajuda. Advogados não ajudam a isso, pois o sistema jurídico serve ao modelo da balança. Aliás, o seu símbolo é uma balança. Bater papo também não é o mesmo que dialogar, ao menos não necessariamente. Para o dialogo bem feito também existem modelos, métodos, formatos, e demanda sensibilidade, serenidade. Dá trabalho, e por isso cresce a ilusão de que é mais fácil pedir que alguém, externo, funcione como uma balança.

A mediação de conflitos deve chamar a todos para dentro da discussão, e cuidar desse espaço para que ele seja seguro a todos. O mediador deve garantir a evolução da discussão, o amadurecimento, e isso não se faz apenas com boa vontade. O que se faz normalmente é o contrário. Tira-se os envolvidos, e coloca-se a decisão na mão de terceiros. Triste opção, que tem seu valor mas deveria ser a última das alternativas, não a única. 

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