Publicado: Segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Uma Brasileira na Inglaterra
Tudo começou há muito tempo, quando ela ainda era menina e ele também. Só que ela, a July, era uma menina comum, classe média, e ele o Príncipe Herdeiro do trono da Inglaterra.
Já então, ela se interessava muito por tudo o que dizia respeito a Ele, o menino que um dia seria rei. Lia tudo o que se publicava sobre a família real inglesa, recortava as fotos do garoto notável e colava na parede do quarto.
O tempo foi passando. Ela cresceu (Ele, também, é claro) e July começou a alimentar um sonho arrojado: Havia de conhecer pessoalmente o Príncipe... conquistá-lo... casar-se com ele.
Impossível? Nem tanto! A literatura estava cheia de histórias de Nobres & Plebeus e, sabe-se de muitos casos de Príncipes que renunciaram a Coroa para casar-se com uma mulher do povo. Por que não podia acontecer com ela?
Mas, precisava dar uma mãozinha para a sorte. Mesmo que estivesse “escrito nas estrelas” seria preciso que ela interpretasse e fizesse acontecer.
O primeiro passo seria ir para a Inglaterra.
Se ela dissesse para a Mãe que queria ir para conhecer o Príncipe, é claro que a Mãe ia dizer para ela deixar de bobagem, então, tinha que arranjar outro pretexto.
Estudar! É claro!
Nada melhor para sensibilizar as mães do que manifestar o desejo de estudar alguma coisa.
A primeira tentativa foi desanimadora:
- Mãe, estou pensando que podia bem ir passar uns tempos na Inglaterra para aperfeiçoar o meu inglês...
- Aperfeiçoar o quê? Você não sabe nada ainda! Aprenda tudo o que lhe ensinarem na Escola e, depois, então, a gente pensa na possibilidade de estudar fora.
- Mas, Mãe, na Escola ensinam muita gramática, lingüística, coisas que não interessam. Convivendo com os ingleses é que a gente aprende a língua coloquial que é o que importa.
- Nada disso. Trate de estudar aqui mesmo. Mais tarde, quem sabe...
A segunda tentativa também não foi muito melhor:
- Mãe, eu tenho muitos amigos e amigas que foram para lá. Estão estudando e trabalhando. Uma beleza! A gente ganha bem, estuda em excelentes escolas e conhece o Mundo. Quer coisa melhor?
- Você pensa que é fácil? Você, lá, seria uma estrangeira, desvalorizada, teria que adaptar-se a uma vida muito diferente da que está acostumada. Não! Você não está preparada para uma coisa dessas.
- Mas, como, do mesmo modo que a água mole faz com a pedra dura o que todo mundo sabe, a insistência dos filhos, quase sempre, acaba por minar o bom senso de qualquer mãe, e a mãe de July não era diferente.
Depois de muitos argumentos, beicinhos e até mal-criações, a Mamãe deixou-se convencer de que, afinal de contas, na pior das hipóteses, seria uma experiência a mais.
E começaram os preparativos para a viagem. Compras, arrumações, conselhos, listas de endereços de Companhias de Viagem, escolas de Londres, acomodações, etc.etc.
* * *
O avião levanta vôo. July se assusta um pouco quando vê, rapidamente, desaparecer o seu Mundo, o seu chão firme e sente-se muito só, acima das nuvens, parecendo estar mais próxima do céu estrelado do que da Terra.
Mas está feliz, pois, encaminha-se para a realização de seu sonho de tantos anos. Fecha um pouco os olhos e quando abre... oh, surpresa das surpresas!
Quem está ali, a sua frente, ao vivo e a cores? Nada mais, nada menos que o Príncipe, mais bonito do que em todas as fotos, sorrindo para ela:
- Olá, July! Que satisfação te encontrar aqui!
- Como sabe quem eu sou?
- Eu a vi em um site de uma discoteca, lá da sua cidade. Foi amor à primeira vista. Disse comigo mesmo: “preciso conhecer essa garota” Estava pronto para ir procurá-la lá no Brasil, mas já que você veio para cá é melhor ainda.
- Você fala muito bem o português. Meu inglês é péssimo. Vim à Inglaterra para aprender a sua língua, e, mais ainda, para conhecê-lo pessoalmente.
- Eu tenho um compromisso oficial agora de manhã, mas vou procurá-la depois para conversarmos mais. Se precisar de alguma coisa é só falar comigo. Se tiver alguma dificuldade, basta dizer que é namorada do Príncipe que todas as portas se abrirão para você.
Alguns homens se aproximaram, o Príncipe levantou-se e acompanhou-os.
O dia estava amanhecendo. O avião foi baixando sobre a grande Londres, envolta em brumas, a cidade coberta de neve, uma paisagem, até então, só vista em cartões postais, ao mesmo tempo, fascinante e aterrorizante.
July desembarcou e misturou-se a multidão que transitava pelo aeroporto.Quando se dirigiu à sessão de Emigração, começaram as dificuldades. Um funcionário muito impessoal pediu-lhe um documento que ela não tinha.
Ela não entendia direito o que ele dizia e não conseguia se comunicar. Lembrou-se, então, das palavras do Príncipe e falou no seu melhor inglês:
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