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Publicado: Segunda-feira, 8 de março de 2010

Resolvemos adotar

Resolvemos adotar

Resolvemos, eu e a Élida, adotar uma criança.

Bonito, né? Também acho. Mas estou cheio de medos e dúvidas. Vou perder meu escritório que vai virar o quarto da criança. Isso não é nada bom. Na verdade, isso não é nada, mas eu pensei sobre isso, vou fazer o quê? Penso bobagens como todo mundo.

Como vou gostar de um estranho? Mais do que gostar, amar! Será que a criança vai crescer com complexo de inferioridade por nós não sermos seus pais biológicos?
Será que vão pensar que sou brocha e não dou no coro por isso tivemos que adotar?

Quanta bobagem pode passar na cabeça de alguém!

Vai ser lindo! Tomara que seja mulher! Ou não.

Acho que serei um pai legal; meio doidão, carinhoso, amigo, bom conselheiro.

É muito louco você pegar uma criança da mão de outra pessoa e assumir que dali pra frente ela é sua filha. Será que não deveria ser assim mesmo? Os pais biológicos não importarem depois que a criança nasce; dali pra frente é responsa da comunidade. Parece coisa de índio.

E se a gente começa a pensar em destino a coisa fica ainda mais maluca! Uma criança terá seu destino completamente alterado, vai mudar de família, de posição social, de vida. Vai ser outra pessoa. Que ligação será essa? Será casual? Nada é casual! De repente eu me transformo num presente para aquela criança que provavelmente viveria em condições muito difíceis, provavelmente miseráveis caso não fosse adotada por mim.

É óbvio que não vou salvar o mundo. E quem garante que ela será mais feliz comigo do quê com a mãe biológica? Ninguém! Na verdade não temos garantia de nada, só da legitimidade ou não das nossas vontades.

Eu quero adotar uma criança. Vai ser bom. Vai ser lindo. Vai ser assim.

Acho que vou me apaixonar bem rápido. Vou ter netos! Acho que nasci para ser avô. Ter um pai palhaço deve ser bem legal, mas um avô palhaço é ainda mais sensacional!

Lembro da música do Roberto Carlos, aquela que diz: “daqui pra frente, tudo vai ser diferente.”

***

Isso aí em cima foi escrito há três anos, quando ainda estávamos na fila de espera para a adoção. O Léo já chegou há dois anos. É um menino risonho, lindo, carinhoso, alegre. Vou parar de elencar os adjetivos para não ficar muito pai-babão; coisa que já sou. O Léo, meu filho, me fez e está me fazendo experimentar um amor que eu nuca imaginei existir. Tão enorme, tão desinteressado, tão redentor que me transformou completamente. Minha vida é antes e depois do Léo.

Depois que experimentei esse tipo de amor que sinto pelo meu filho, imaginei que a única, mais linda e maior saída para a humanidade seria se nos amássemos a todos desse jeito que eu amo ao Léo.

Agora, acabando essa crônica, vou fazer uma das coisas que mais me dão prazer atualmente. Sempre antes de dormir, passo no quarto do Léo, ajeito a sua coberta, fico namorando seu sono profundo e dou-lhe um beijo bem estalado em sua bochecha ainda gordinha.

E pensar que eu estava preocupado em ter que sair do meu escritório quando meu filho chegasse... Como a gente é besta.

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