O menino de Eduardo Galeano
Ainda me lembro das palavras do meu professor de Psicologia dizendo do perigo dos extremos, sobretudo na formação da personalidade. Ter muito ou nada, fazer além ou aquém é igualmente arriscado no reino dos sentimentos... A felicidade e o bem-estar estão no equilíbrio e ainda que este tempo nos imponha tantos excessos, precisamos encontrar o meio termo e com ele conter os extremos.
Trabalhamos demais. Atropelamos o tempo necessário para criar, pensar e educar. Excedemos o limite do consumismo e embriagados pelo desejo do mais, ignoramos a nossa capacidade reflexiva. E assim, nessa vida louca, de poucas horas, de correria exagerada, de pressa e pressão, cobrança e prazo, penso que nos acorrentamos.
Passamos do ponto e, em algum ponto, perdemos o controle. Exageramos e entregamos aos jovens um mundo de incerteza, medo e insegurança. Não sabemos mais como ajudá-los, orientá-los, educá-los. Estamos todos perdidos.
A escola se perdeu... A velha didática não suporta mais a velocidade e a quantidade de informação, embora insista na ideia de dar conta de tudo. Os alunos reclamam, mas os professores não escutam: o volume de conteúdo a cumprir fala mais alto. Aulas corridas, explicações apressadas, projetos relâmpagos, livros volumosos e alunos solitários refletem a hiperatividade deste tempo, chamado pós-moderno.
A pressa domina a vida da escola e ignora o tempo do aprender. O livro de leitura, raramente de literatura boa, é jogado nas mãos dos alunos para que devolvam sua interpretação, poucos dias depois, em respostas a uma prova escrita. Cadê a roda de conversa que ensina o aluno a reconhecer a intenção do escritor e o sentimento ao redor da palavra? Cadê o desenvolvimento da competência de leitura das linhas e entrelinhas? Cadê a recuperação da aprendizagem que ficou no meio do caminho?
Não posso concordar com uma escola também embriagada pelo desejo do muito de nada. A escola precisa assumir-se como porto seguro, como chão firme que sustenta os passos dos meninos, sobretudo no enfrentamento do monstro assustador, que é o seu futuro.
Penso que a escola perdeu sua essência. Pesquisas mostram que diretores estão cada vez mais distantes da gestão pedagógica. Muitos deles dizem não ter responsabilidade com o baixo desempenho da aprendizagem. Alguns, ainda, nem são vistos pelos alunos, tamanha distância e ausência da atuação profissional.
Crescer, aprender e amadurecer intelectualmente requer tempo, persistência e paciência. Requer um professor comprometido com o desempenho do aluno e não com a sua vaidade intelectual. Quem nunca ouviu comentários, como: “o professor sabe muito, mas não consegue ensinar...?”
Com um pouco de vontade, muito interesse e bom-senso, algo a fazer ainda é possível. Basta recuperarmos o sentido da educação, em casa, na escola, que é cuidar das pessoas e “ajudar a olhar”, como pediu ao seu pai, o menino de Eduardo Galeano, com 04 anos de idade, quando viu o mar pela primeira vez.
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