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Publicado: Segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Transtorno bipolar: a vida pelos opostos

Transtorno bipolar: a vida pelos opostos

O transtorno bipolar é considerado uma perturbação afetiva, onde a pessoa apresenta episódios de mania (euforia) alternados com episódios depressivos. As crises nem sempre seguem essa mesma ordem, ou seja, a pessoa pode apresentar crises depressivas sem necessariamente apresentar crises maniacas, nesse intervalo. Dessa forma, os pacientes apresentam mais episódios de um estado e poucos de outro.
Estima-se que cerca de 0,5% das pessoas desenvolvam o transtorno, sendo a idade média para o “aparecimento” dos sintomas por volta dos 30 anos, porém a idade não é um fator limitador, há casos nas mais variadas idades. Dentre as pessoas acometidas pelo transtorno bipolar, cerca de metade delas podem ter parentes que também possuem o transtorno.

Como o padrão das crises não é necessariamente uniforme, o diagnóstico pode ser dificultado, muitas vezes levando um tempo maior para sua conclusão. Assim como o início do transtorno pode ser marcado por uma crise tanto depressiva quanto maníaca, de forma abrupta ou não.

Quando os sintomas aparecem “repentinamente” é mais fácil notar, pois a pessoa pode passar de um estado depressivo para um estado oposto, onde apresenta atitudes onipotentes, egoístas, mostrando-se falador, alegre, realizador, porém de uma maneira um tanto quanto extremada.

Se em alguns casos encontramos ambos estados bem caracterizados, em outros podemos ter a presença das duas coisas quase que simultaneamente. Assim, dentro de um quadro depressivo, temos um comportamento diferente, podendo envolver gastos excessivos, atitudes impulsivas marcadas pela onipotência e até mesmo a realização de vária atividades ao mesmo tempo, porém sem conseguir responsabilizar-se por nenhuma.

Lembro-me de um paciente em estado maníaco que de uma hora para outra, pegou o avião e foi viajar, ficando dias desaparecido. A família, desesperada, tentava entrar em contato, mas não conseguiram localizá-lo. Após semanas, o paciente liga dizendo onde se encontrava. Nesse caso, a família só tomou conhecimento do ocorrido após encontrá-lo, em dificuldades até mesmo financeiras, pois todo o dinheiro que ele tinha levado foi gasto.

No intervalo entre os estados, a pessoa pode parecer normal ou mesmo apresentar leves sintomas, mas de forma a realizar as atividades cotidianas sem dificuldades. Já outras pessoas podem não se recuperar, apresentando comprometimento das atividades do dia-a-dia, entretanto esses casos são menos freqüentes.

Quando na fase depressiva a pessoa pode apresentar falta de energia, cansaço constante, inibição das atividades, tristeza, melancolia, insegurança, baixa auto-estima, pouco interesse pela “vida”, dificuldades de atenção, lentidão até mesmo para o encadeamento de idéias. A pessoa pode, durante uma conversa, parar de falar ou mesmo não concluir um pensamento por conta da dificuldade em concentrar-se e elencar idéias e até mesmo pelo pouco interesse nas coisas cotidianas. Em um estágio mais grave, os laços afetivos acabam sendo evitados, aumentando o isolamento social. A culpa pelos “erros” do passado podem ser freqüentes, levando a lamentações e irritabilidade . A dificuldade para dormir também pode estar presente, bem como a dificuldade em levantar-se pela manhã. Já, em um outro momento podemos ter o excesso de sono como uma fuga da realidade. O sono não é a única coisa que sofre alterações, podemos observar isso quanto a alimentação e o desejo sexual.

Muitas vezes a depressão pode ser mascaradas por doenças físicas como ulceras, gastrite, doenças de ordem psicossomática, ou seja, causadas até mesmo pela própria depressão.

As idéias suicidas podem estar presentes, porém a chance de não se concretizarem é grande pelo sentimento de falta de energia para tal. Mesmo assim, devem ser olhadas com muito critério e atenção.

Na fase maníaca temos sentimentos opostos e frequentemente exagerados como alegria e sentimentos de grandiosidade. A pessoa pode se considerar alguém muito especial, alimentando fantasias onde é dotada de capacidades e poderes especiais. Nada é impossível para essa pessoa. Por vezes podem se tornar socialmente inconvenientes, alimentados pelos sentimentos de grandiosidade, falta de limites, excesso de atividades onde eles sabem de tudo, podem tudo, fazem tudo. A pessoa pode não conseguir concluir idéias, falando sem parar, emendando uma idéia na outra repetidamente e distraindo-se com freqüência, devido a percepção mais aguçada. Os comportamentos impulsivos podem levar a grandes problemas financeiros, já que tendem a gastar excessivamente. Dessa forma, o comprometimento social também pode ser grande, já que a pessoa pode passar por situações vexatórias através de seu comportamento inadequado. O desejo sexual também fica acentuado levando a situações de perigo envolvendo contágio por doenças sexualmente transmissíveis.

As causas do transtorno bipolar estão relacionadas a situações estressantes como traumas, acidentes, mortes, períodos de conflito no qual a pessoa não consegue “supera-los” de maneira satisfatória.

O tratamento do transtorno bipolar deve ser feito com medicamentos e psicoterapia, podendo ser individual ou mesmo familiar, já que há conseqüências fortes e desestruturantes para a mesma. O engajamento do paciente no tratamento deve ser constantemente reforçado, visto que o mesmo tende a abandonar o tratamento na fase maníaca pois se sente muito bem, enquanto que na fase depressiva nada pode ajudá-lo. Os sintomas estando “controlados”, há possibilidade de trabalhar os conteúdos relativos e advindos do transtorno, buscando sempre melhorar a saúde integral da pessoa.

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