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Publicado: Sexta-feira, 26 de agosto de 2005

Patrimônio Industrial do interior do Estado de São Paulo-Brasil

[Artigo publicado no Boletim do The Internation Commitee for the Industrial Heritage, n. 16, 2002]

A presença de rios encachoeirados, como o rio Tietê, que atravessa todo o Estado de São Paulo, foi determinante para a construção de vários empreendimentos fabris na segunda metade do século XIX.
Neste momento, a economia do Estado estava baseada na lavoura de exportação do café, na mão-de-obra escrava e, numa política de substituição deste trabalho pelos imigrantes europeus, sobretudo, italianos . É dentro deste contexto que se insere a região de Itu, tradicionalmente ligada à cultura da cana-de-açúcar que, nos anos de 1860, contou também com a presença da cultura algodoeira.

A importância da cultura algodoeira para a região, reside no fato de que proporcionou as matérias primas e o acúmulo de conhecimento técnico-comercial, o qual foi aplicado posteriormente pelos empreendedores da região nas pioneiras fábricas de tecidos. A presença de máquinas fabris, inglesas e americanas, movidas à vapor ou hidráulicas, colocava a região dentro do mais avançado contexto tecnológico da segunda metade do século XIX

Outro fator determinante para a concentração de fábricas texteis nesta região, foi a questão geográfica. A cidade de Salto-SP, localizada a 120 quilômetros da Capital e, que até o ano de 1900 contava com 4 fábricas (3 de tecidos e 1 de papel), está situada numa zona de transição entre o Planalto Atlântico e a Depressão Periférica Paulista e, sobre uma faixa denominada "fall-line" (linha de quedas). Neste local, o rio Tietê, apresenta sua maior queda d'água.

O início da construção do primeiro edifício fabril, denominada Fábrica Galvão, em 1873, junto a esta cachoeira, trouxe para a região, uma inovação tecnologica do século XIX, a introdução da turbina hidráulica. As máquinas, foram adquiridas da Platt Brothers & Co. Limited, de Oldhan Inglaterra e, provavelmente também a planta do edifício que, no Brasil, foram adaptadas aos recursos construtivos do local, com a introdução da alvenaria de pedra, utilizando-se do granito.

Aspecto deste edifício, que apresentavam semelhanças com modelos ingleses, são encontrados em descrições publicadas em artigos de jornais do século XIX. Assim, torna-se possível saber que a construção, em forma de quadrado com 35,2 metros de face, era composta por dois pavimentos. O primeiro deles, onde estava instalada a turbina hidráulica, tinha seu alicerce assentado sobre uma imensa rocha de granito junto ao rio e, colunas em formas de arco, fabricadas com pedra sustentavam o pavimento superior.

Neste pavimento, foram assentados todos os maquinismos, Suas paredes foram construídas com pedaços de granito e argamassa e, 28 janelas em forma de ogiva iluminavam o grande salão. Colunas de madeira, sustentavam o telhado.

No ano de 1880, foi instalada, neste local, a fábrica de tecidos "Barros Júnior". O edifício, ainda presente embora com várias alterações, foi construído em dois pavimentos e, apresentava alvenaria de tijolos, fabricados pelo proprietário. Nota-se que, pedaços de granito foram utilizados como revestimento de sua parte externa, garantindo assim, a impermeabilidade da estrutura.

Em 1904, estas duas fábricas reunidas deram origem a Fábrica de Tecidos Italo-Americana, de propriedade da Societá per l'Esportazione e per l'Industria Italo-Americana, com sede em Milão-Itália. Em 1919, através de uma nova associação, passou a denominar-se Brasital S/A.

Com esta nova gestão empresarial, a Fábrica Galvão foi demolida e, em seu lugar foram construídos prédios para abrigar a tecelagem, que passaram a ser equipadas com máquinas movidas a eletricidade. O edifício, deu lugar a outro, em estilo britânico-manchesteriano, introduzido também na antiga Fábrica Barros Júnior, ao qual foram acrescentados detalhes no acabamento do telhado.

Neste período, as plantas foram elaboradas na Itália. A arquitetura é marcada pela fachada de alvenaria de tijolos vermelhos, sem revestimento e, de pedra (granito), trabalhadas por pedreiros e canteiros italianos e portugueses. Padrão, que foi incorporado em outros edifícios construídos na cidade: creche, hidroelétrica, vilas operárias e, em outros edifícios fabris de sua propriedade, como a Fábrica de Papel de Salto, Depósitos de tecidos na cidade de São Paulo-SP e, fábrica de tecidos da cidade de São Roque-SP.

A Italo-Americana/Brasital, marcou consideravelmente a história da cidade de Salto-SP, também quanto a sua constituição social. A partir dela, a localidade passou a contar com a presença de uma significativa população de origem italiana com a contratação na Itália, de mestres, contra-mestres, diretores, professores e médicos. Famílias italianas, saídas do trabalho das fazendas de café, passaram a considerar a empresa um local possível e alternativo de trabalho na cidade e, assim, transformaram-se em seus operários.

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