Cultura

Publicado: Quarta-feira, 28 de julho de 2010

Mainardi deve lançar livro novo ainda em 2010

Autor comenta seus romances, relançados em 2006.

Crédito: Leandro Sarubo/ www.itu.com.br Mainardi deve lançar livro novo ainda em 2010
Parte da Biblioteca particular do escritor, com livros que não serão levados para Veneza

Por Leandro Sarubo

Malthus, Arquipélago, Polígono das Secas e Contra o Brasil.

Os títulos acima, lançados a partir de 1989 metodicamente a cada três anos representam a carreira literária de Diogo Mainardi, pelo menos no que diz respeito a romances.

As publicações foram relançadas em 2006, todas sem grande sucesso editorial, conforme ele mesmo ratificou. “Os romances venderam muito pouco, venderam muito mais na edição original do que na republicação. À época da publicação eu ainda não escrevia coluna. Então eu contava com uma certa simpatia por parte da imprensa.”

A carreira de Mainardi, mesmo no jornalismo, está intrinsecamente ligada ao universo literário. Sua função em Veja antes da coluna, que mesmo no período mais agudo da crise governista não abandonou as páginas de “Artes e Espetáculos” da revista, era resenhar romances dos outros – ele também escrevia perfis. E, a julgar pelo que se publicou na década de 90, ele certamente sofreu.

A sua primeira obra, a oitentista Malthus, foi vencedora de um prêmio Jabuti, o mais tradicional da literatura brasileira. Tratando com uma originalidade pouco vista entre nossos autores modernos a insensatez humana, o título faz alusão às teorias lançadas por Thomas Malthus no século XIX, mas com uma adaptação fundamental: nas páginas do livro nós enfrentamos a progressão geométrica da estupidez. Na sequência (1992) tivemos Arquipélago, que apresenta o “Day after” da fictícia Pedranópolis, acometida por um dilúvio que a engoliu por inteiro. A história é centrada na tentativa de reconstruir o município e reestruturar uma sociedade, tudo sob a ótica do protagonista que coordena o projeto.

Polígono das Secas, o livro predileto de boa parte de seus leitores, é o que revela no mais elevado nível a facilidade que Mainardi tem para desconstruir lendas, desconstruir imagens imaculadas, talento que atribui a seu temperamento. “É uma coisa que a gente constrói a partir do que é. Eu sempre tive essa disciplina intelectual e de humor de ver o lado contrário.”

A obra, que em sua versão original tinha prefácio de Paulo Francis, é o antídoto perfeito para toda a literatura romantizada pelos autores da safra regionalista do início do século XX. As mensagens positivas e as quase lições de vida que os sofridos sertanejos dos enredos mais tradicionais carregaram são substituídas por elementos de pura acidez que corroem as boas intenções e a desagradável ode à miséria.

Contra o Brasil, o último romance de sua carreira, é o livro mais engraçado e, para surpresa de muitos que sempre apostaram em Polígono, o que ele considera ser seu melhor trabalho. “Realizei tudo o que que queria realizar neste livro. O projeto final corresponde ao projeto inicial de maneira completa.”

Pimenta Bueno é a espinha dorsal da história. O “anti-Brasil” por excelência, Bueno apresenta um repertório invejável de impropérios lançados por estrangeiros contra nosso país. A ironia é que o personagem carrega moral e atitudes que o tornam tão brasileiro quanto o povo que adora ofender.

Um dos elementos mais curiosos nesta obra é que ela é a única a propor a existência de uma simbiose entre criador e criatura. Nos fóruns virtuais, muitos discutem atentamente a possibilidade de Pimenta ser uma peça autobiográfica. O que evidentemente não é. “Pimenta é um personagem cômico, de leituras variadas, ele é meio Quixote, ele foi acumulando características de vários personagens. Eu fui captando influencias e acabei fazendo esse personagem, que não é de grande profundidade psicológica. Então não é que seja um personagem memorável pela construção de uma figura humana. Ele é um personagem unidimensional”.

Após seis anos sem uma visita às prateleiras, a Record publicou a primeira coletânea de colunas de Veja de Diogo. A Tapas e Pontapés, publicado antes da eclosão do mensalão e da elevação de Diogo à condição de grande opositor do governo, chegou a ocupar o quinto lugar na lista de mais vendidos.

O livro contém clássicos, como a coluna de 2002 em que comenta o Hino Nacional, ainda hoje a campeã de cartas e e-mails na redação de Veja. Lula é Minha Anta foi além. Bateu 70 mil exemplares vendidos, número impressionante por ter crônicas antigas. “O que havia ali era um trabalho de coluna, de, como dizem os petistas, “contextualização”. Acho que isso ajudou a vender o livro. E eu fico feliz de ter essas crônicas reunidas em livro. Foi melhor pra mim do que pro leitor.”, comenta Diogo, com a provocação e a sinceridade que lhe impulsionaram ao título de grande nome do jornalismo opinativo brasileiro desde Paulo Francis.

Ainda neste ano Diogo deve lançar um novo livro, inédito, sem trechos de suas colunas ou inclinação política. A obra, que é a razão para a coluna ser publicada quinzenalmente na revista Veja, será tão pessoal quanto o texto “Meu Pequeno Búlgaro”, em que ele comentou suas primeiras impressões após o nascimento de Tito, que devido um erro médico sofre com a paralisia cerebral. O tema do novo livro será exatamente a experiência da paternidade.

Quem o conhece sabe que vai ser bom para ele. E para quem gosta dele.

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