Cultura

Publicado: Terça-feira, 3 de agosto de 2010

Diogo Mainardi fala ao Itu.com.br antes de sua saída do Brasil

Comentarista decidiu voltar à Itália no fim do mês de julho.

Crédito: Leandro Sarubo/www.itu.com.br Diogo Mainardi fala ao Itu.com.br antes de sua saída do Brasil
Espaço em que Diogo Mainardi escreve suas colunas em Veja

Por Leandro Sarubo

*Entrevista realizada em julho de 2010

Diogo Briso Mainardi é paulista. Viveu quatorze anos em Veneza. Retornou ao Brasil oficialmente após o nascimento de Tito, seu filho mais velho, que sofre de paralisia cerebral devido a um grave erro médico durante o parto. A volta para o canto italiano acontece no fim do mês.

A escolha pelo Rio de Janeiro, cidade que simboliza os vícios nacionais mais comentados e satirizados em seus textos, soa como ironia. Não é. Ela é embasada nas condições encontradas para o tratamento do pequeno Tito, uma criança alegre, integrada, e, pelo menos no dia de meu encontro com Diogo, também vítima dos roteadores – seu laptop não conseguia acessar a Internet.

Quem atribui a Diogo os afáveis adjetivos "nazista", "reacionário", "direitista", "elitista", "verme", entre outros, esses impublicáveis, certamente se surpreenderia caso visitasse seu apartamento. Nada de cristais, televisores de 57 polegadas ou mármore desperdiçado a cada quina. Não há luxo. Não há maletas de dólares enviadas pelos americanos.

A família Mainardi é simples, direta, bem a exemplo dos textos de seu comandante. Com uma camisa furada e chinelos, Diogo finalizava sua xícara de café e conversava com Nico, o filho mais novo e mais tímido, que brincava na sala, composta apenas por sofás, um longo criado mudo e a televisão 21 polegadas, que transmitia o GP da Inglaterra de Fórmula 1. Antes que eu ensaiasse perguntar se ele era Ferrarista, uma risada e uma recomendação: “Vai ser uma entrevista de pijama. Você vai ter que considerar isso no texto também”.

Preparado para ligar o gravador e iniciar as perguntas, explico que invariavelmente ele responderia perguntas já antes respondidas, como a relacionada à influência de Ivan Lessa no abandono de seus estudos em Londres – Lessa se encontrava com Diogo semanalmente em um restaurante chinês, onde entregava um saco com três livros, que eram devolvidos na semana posterior. “Às vezes o catatauzão tinha 500 páginas, então não havia escolha”. Sobre isto, ele prontamente arrematou: “Não são as perguntas que são repetidas. São as respostas”.

Confira abaixo as respostas – inéditas- do único iconoclasta (de pijama) da imprensa nacional. Do colunista que, a exemplo de Paulo Francis, sabe que “crítica é apenas crítica”, e, mais importante, sabe como escrever um bom artigo opinativo.

 

Itu.com.br – Você viveu boa parte da ditadura militar. Que lembranças você tem deste período?

Diogo Mainardi: Em casa havia um clima muito ruim, porque havia medo de retaliação contra meus pais. Eles faziam publicidade, mas de qualquer maneira se expunham bastante, contra a censura sobretudo. Eles tinham amigos que haviam sido perseguidos, no exílio. Era uma constante ameaça. Eu lembro dos livros que nós tínhamos e que eram proibidos. Então havia uma proibição, e alguém me colocou na cabeça - eu era bastante pequeno ainda, que determinados livros davam cinco anos de cadeia cada um. Eu calculava que nós tínhamos oito prisões perpétuas em casa em forma de livro.

Itu.com.br - Emir Sader recebeu em 2007 um prêmio Jabuti. Você recebeu o mesmo prêmio em 1990, com seu primeiro livro, Malthus. Sader, em seu blog, lançou um post sobre a premiação “O Corvo do Ano”, nome que é referência à Carlos Lacerda, considerado por ele o fundador do “Partido da Imprensa Golpista”, um trocadilho com PIG. Você está em primeiro lugar nesta votação...

Diogo Mainardi: Ah, eu ganhei? E em 2º lugar?

Itu.com.br - Não, ainda não. Só depois da eleição sai o resultado.

Diogo Mainardi: Ah, não acabou ainda? Dura um ano inteiro a votação? Puxa! Isso é que é processo democrático!

Itu.com.br - Te incomoda ter recebido o mesmo prêmio que Emir Sader recebeu dezessete anos depois? Teve alguma influencia na sua vida ter ganho o Jabuti?

Diogo Mainardi: Não teve nenhuma influência. Eu morava fora nem sabia o que era um Jabuti. Recebi uma tartaruguinha em casa. Não me ajudou, não me atrapalhou. Foi absolutamente indiferente na minha vida ter recebido o prêmio. E se eu recebesse o prêmio “O Corvo do Ano” com 357 votos... Você vê como tem prestígio o Emir Sader? Muito lido o blog dele. Agora, escândalo que ele tenha vencido algum prêmio na vida. Acho inacreditável que ele tenha conseguido alguma coisa.

Itu.com.br - Você foi amigo pessoal de Paulo Francis, talvez o maior nome do jornalismo opinativo brasileiro. Seria possível prever o que ele pensaria sobre o Brasil hoje?

Diogo Mainardi: Ele não teria mudado de opinião a respeito de nada. Ele continuaria fazendo uma avaliação muito critica e brutal sobre o país, sobre o PT, não tenho a menor duvida disso. E eu acho que hoje em dia ele teria mais dificuldade para se mexer. A imprensa ficou um pouco mais acovardada do que era. E acho que as coisas que ele dizia, se pra mim renderam 200 processsos, pra ele renderia dois mil. Ele teria que consultar advogados toda semana. Isso é uma limitação bem grande pro exercício dessa profissão.

Itu.com.br - Saindo da literatura e incursionando no cinema: Você pretende investir novamente em filmes?

Diogo Mainardi: Não. Eu tenho dois filhos agora, não posso mais perder dinheiro.

Itu.com.br - Existe algum projeto pra lançar Mater Dei e 16060 em DVD?

Diogo Mainardi: Existe um problema, primeiro de desinteresse por parte dos espectadores, depois de direitos, eu não acompanho isto, já encerrei minha carreira.

Itu.com.br - Em 2007 você arrumou alguma confusão comentando Tropa de Elite. Você comentou a pose de Wagner Moura nos cartazes promocional do filme, que o respondeu.

Diogo Mainardi: Era a única coisa que eu tinha visto

Itu.com.br - Depois disso você acabou assistindo ao filme, e comentou que o mérito do filme não era suscitar o debate, mas sim acabar com ele, pois a obra retrata o Brasil do jeito que ele é, uma “guerra de bandido contra bandido”. Em três meses chega aos cinemas a continuação de Tropa, com pompa de blockbuster. Você teria interesse em assistir o segundo filme?

Diogo Mainardi: Esteticamente é um mau filme. Mas é um filme que teve um papel. Exatamente pelos motivos que expus na época.

Itu.com.br - Tropa é melhor que Glauber Rocha?

Diogo Mainardi: Es

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