Arte: a busca pelo espaço no cenário independente
Entenda como artistas amadores de Itu divulgam seu trabalho.
Renan Pereira
Por Renan Pereira
Percepções, emoções e ideias. Independente das inúmeras interpretações que podemos dar à arte, estas três palavras estão diretamente ligadas às suas raízes. Desenvolvida inicialmente pelos egípcios e mais tarde pelos gregos, no decorrer da história, ela ganhou nova roupagem e passou por drásticas mudanças. Hoje, está intimamente ligada ao nosso cotidiano.
Pode até parecer coisa de gente alienada, mas o empreendedorismo chegou com força nas artes e acredite, produtoras de arte do mundo todo já estão ameaçadas de extinção. Em nenhum outro momento da história houve tantos artistas ligados ao conceito de "Do it yourself", expressão inglesa que significa "Faça você mesmo". Nunca existiram tantos artistas batalhando para conquistar o seu espaço no cenário independente, e sem a ajuda de patrocinadores. Não raramente conhecemos um ‘carinha’ que escreve um livro e o publica com a ajuda de alguns amigos. Ou então aquela ‘bandinha’ que se tranca no estúdio - improvisado no porão de casa - e dá início ao seu sonho. Muitas vezes, estes artistas sobrevivem única e simplesmente dessa forma, vivem para a arte e fazem disto o seu ganha-pão.
Na cidade de Itu, esse cenário já se tornou lugar-comum, um exemplo disso é o pintor Paulo Lara. O artista começou a pintar aos 12 anos de idade e batalhou muito até conseguir conquistar seu espaço: o Estúdio de artes Paulo Lara, localizado atualmente no centro da cidade. “Hoje consigo expor meus quadros em vários lugares e tenho local de trabalho próprio. Porém, passei muita dificuldade no início da minha carreira”, conta. O pintor ressalta ainda a importância de não desistir, mesmo quando o desespero bate na porta. “Nunca recebi apoio de empresários e nem da prefeitura local, ouvi ‘não’ de muita gente. As pessoas sempre me diziam que pintar não dava dinheiro. Porém nunca desisti e resolvi correr atrás desse sonho sozinho”, desabafa.
A falta de apoio a artistas amadores é um dos problemas mais frequentes que o cenário independente tende a enfrentar. Grande parte dos artistas de Itu concorda que o governo local pouco faz para incentivar a cultura independente. “Em Itu, não existe nenhum tipo de apoio aos grupos amadores, absolutamente nada. O único teatro da cidade, o TEMEC, é pago. Não temos nenhuma sala para ensaios e não temos apoio para a divulgação de nosso trabalho. Normalmente nos apresentamos em Salto, porque tanto o Teatro Maestro Gaó quanto o Montécnica trabalham com porcentagem de bilheteria, o que facilita muito para nós”, ressalta Rita Benedetti, atriz e dramaturga do grupo teatral “Cia Metamorfose", equipe que representou a cidade de Itu recentemente no “Circuito Regional de Artes", em Cerquilho. Confira a entrevista na íntegra. “Itu é riquíssima em cultura e tem vários lugares onde grupos musicais, de teatro e afins poderiam se apresentar todo final de semana. Infelizmente isso não acontece”, enfatiza Ângela Abreu, coordenadora do grupo "Cia teatral ituana". Leia a entrevista completa.
Segundo o secretário de cultura da cidade, Álvaro Stella, a sociedade tem uma visão distorcida da atuação da prefeitura. “As pessoas pensam que a Secretaria de Cultura é um palácio fechado. Estamos com as portas abertas para qualquer um que nos queira apresentar um projeto artístico, o que não significa que ele será aprovado. Mas com certeza analisado”, afirma. Ele destaca ainda que a secretaria disponibiliza duas salas para exposições. “Essas salas são destinadas à exposição de artes. Vários pintores, escritores e fotógrafos já expuseram seus materiais aqui. Porém, é necessário deixar claro que estas exposições não podem ter fins comerciais dentro do prédio,” explica. Confira a entrevista.
Internet: a grande aliada da arte independente no século XXI
É imprescindível destacar a importância da Internet como a grande aliada da arte independente no século XXI. Ela modificou o modo de fazer e consumir arte. A banda inglesa de rock alternativo, Radiohead, é um forte exemplo disso. O grupo lançou no ano de 2007 o álbum virtual intitulado “In Rainbows”. Em uma espécie de leilão eletrônico, cada comprador pode pagar o que acha justo pelo álbum. A iniciativa ousada da banda provocou um forte impacto em gravadoras de todo o mundo e colocou em debate a necessidade de ter um patrocínio. A partir daí, artistas famosos ou não, passaram a usar a estratégia do grupo. De acordo com o vocalista da banda, Tom York, este foi o álbum que a banda teve maior lucro em toda sua carreira.
Os artistas da cidade de Itu também têm adotado o recurso da tecnologia para disseminar suas obras. Segundo Erik Santana, guitarrista da banda de sons autorais, Balaio Bento, a Internet mudou a relação das pessoas também nas artes. “A Internet modificou drasticamente o nosso contato com o público. Com ela nós divulgamos shows, falamos com os amigos que nos acompanham e ainda por cima divulgamos nosso trabalho autoral para todo mundo. É incrível”, ressalta. Leia a entrevista completa.
Assista a apresentação da banda Balaio Bento seguida pela música "Entre um tiro e outro":
Arquivo pessoal da banda |
Outro exemplo: no dia 31 de julho de 2006 o vídeo da música “Here it goes again”, da banda americana Ok Go estreou no Youtube. A partir de novembro de 2009 o vídeo já havia sido visto por mais de 48 milhões de pessoas. Detalhe: até então a banda não possuía gravadora e era considerada independente, só mais tarde os músicos foram contratados pela Capitol, lendária gravadora dos The Beatles.
E não é somente o setor da música que tem se beneficiado das inovações da Internet. “Graças a Internet tenho meus trabalhos comercializados no Canadá, Estados Unidos e mesmo em nível nacional. As artes visuais estão atravessando um momento muito especial graças a esta tecnologia, nunca houve uma oportunidade como essa para se divulgar as artes antes”, afirma o artista plástico de Itu, Braz Júnior. Confira os detalhes da entrevista.
O interessante é que nem só