Cultura

Publicado: Domingo, 12 de dezembro de 2010

José Nêumanne Pinto apresenta a exposição Arte e Arteiros

Brincar é a arte de tirar aventuras e prazeres do escasso.

Crédito: Deborah Dubner / www.itu.com.br José Nêumanne Pinto apresenta a exposição Arte e Arteiros
"Dentro de nós moram artistas e arteiros, muitas vezes até artistas arteiros"

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José Nêumanne Pinto apresenta a Exposição Arte e Arteiros, que está aberta no Espaço Cultural Almeida Júnior, em Itu. Um convite irrecusável para entrar no universo do brincar e visitar a exposição. Boa leitura!

Da infância, no sertão, só guardo lembrança de um único amigo: meu irmão Nilton, um ano mais novo. Brincávamos muito juntos, mas não me lembro de termos possuído brinquedos, destes produzidos em indústrias, naquele tempo de plástico, mas ainda não estes gadgets, bugigangas eletrônicas e complementos de luz, imagem e som que hoje predominam nos folguedos infantis. 

Brinquedo mesmo, no sentido pelo qual se entende a palavra hoje, só me lembro ter possuído um cavalo de pau, sobre o qual procurava imitar Roy Rodgers, Buck Jones ou Hapolong Cassidy, mas sem as camisas de franjinha, as cartucheiras nem os revólveres de plástico que Carlos Antônio, da minha idade, possuía e exibia com garbo. Meu irmão e eu costumávamos brincar com latas vazias de Toddy, que sob nosso controle se tornavam carros, prédios, monumentos e até pessoas. 

Crianças mais dadas ao esforço físico disparavam nas ruas em patinetes e carrinhos de rolimã, fabricados com rolamentos abandonados de automóveis. O que enriquecia e até enobrecia aquele lixo industrial era a imaginação: brincar, desde sempre, foi, é, a arte de tirar aventuras e prazeres do escasso, às vezes do nada. Mais até que isso: o exercício de animar, não no sentido estreito de alegrar, mas, sim, no mais amplo, o de dar anima (alma, em latim) a objetos inanimados. Daí, a proximidade existente entre artistas e arteiros, tanta que as duas atividades nem sempre se diferenciam: quem faz arte muitas vezes também a produz. E vice-versa. 

Esta exposição mexe com animação, nesse sentido lato de dar um sopro de vida em matéria morta e também no outro, do movimento, da mobilização. Fazer ficção é brincar com palavras escritas. O teatro, uma brincadeira de gestos e palavras faladas. Dentro de nós moram artistas e arteiros, muitas vezes até artistas arteiros: somos gente que pinta o sete e vai ao parque andar de roda gigante e girar no carrossel. Gente comum ou singular: meninas que jogam bola e marmanjos que não se envergonham de brincar de boneca. Mamulengos na maleta, monjolos em miniatura, rói-rói na barraca da feira livre: objetos que nos remetem à infância dentro da carcaça que enruga, engorda e cai. Brincar, jogar, tocar, fazer arte: jeitos de manter serelepe a velha inocência original, nunca perdida.

José Nêumanne Pinto é Editorialista do Jornal da Tarde, comentarista da Rádio Jovem Pan e do SBT, poeta e escritor com diversos livros publicados, entre eles: Solos do silêncio – poesia reunida e O silêncio do delator, agraciado com o Prêmio "Senador José Ermírio de Moraes", da ABL.

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