Sonia Jaqueline Oliveira: Contar histórias é uma arte

Com certeza nós nos lembramos de histórias contadas por nossos avós, pais e professores ainda quando criança, momentos de recordação que ao lembrar nos remetem aos laços afetivos hoje esquecidos. Essa fase tão importante em nossa infância leva-nos a viajar ao nosso passado através dos causos de assombração, lendas e histórias. Lembram quando todo o pessoal reunia em uma animação ao pé do fogão ou à luz do lampião e luar? Talvez esta nova geração não lembre, mas já ouviu falar que contar histórias é uma arte e não é de hoje! Falando em hoje... Será que temos tempo e espaço na nossa vida para as histórias ? 

Neste mundo onde tudo é rápido será que ainda conseguimos a atenção do outro para ouvi-las? Pensando nesta vida tão rápida, resolvi registrar todas minhas histórias contadas ao longo destes dez anos e que estão guardadas somente em minha alma. Começo realizando um breve relato de como as "histórias " entraram na minha vida e ajudaram a sair de uma depressão.

Libertação

Sempre exigente comigo mesma e com uma enorme vontade de trabalhar e fazer o melhor, exatamente no dia 29 de agosto de 2002 vi meu mundo cair após ser vitima de uma fofoca no trabalho. Naquela mesma noite começava meu calvário. Chorei muitos dias sem parar. Encaminhada rapidamente para o psicólogo e psiquiatra, graças a Deus através de um médico da nossa cidade de Porto Feliz, o qual eu agradeço muito, comecei meu tratamento com remédios e psicoterapia, que durou um ano. Naquele mesmo ano recebi um convite da minha tutora de faculdade para participar de uma oficina de contador de histórias. Seria o primeiro de muitos que realizei. Naquele dia começaria minha libertação através da fábula contada na época pela contadora de história Susi klemer .

Fui para casa preenchida com novas ideias , aquela história marcaria a minha vida. No outro dia fui trabalhar e após um ano sem cantar, contar histórias, já não sorria e nem mesmo sentia o dia passar e durante a noite tinha muitos pesadelos, passava o dia, a noite e para mim era tudo igual. Reuni meus alunos em uma roda e um dos alunos levantou o braço e disse :

- Tia Jaque você não canta mais?
Olhei para aquela criança e respondi:
- A tia não canta, mas conta !
Levantei, peguei um chale que ficava no baú das fantasias, coloquei em minhas costas e com um lenço na mão, que tenho que até hoje, levantei e comecei a contar a História do " sapinho esperto", do meu jeito é claro, pois sabemos que "Quem conta um conto aumenta um ponto".Já diz o ditado popular, "um conto muito contado, em suas andanças pelo mundo, vai recebendo coisas de cada lugar por onde passa e vai perdendo outras tantas. É a dinâmica das histórias que estão vivas!". E assim comecei a falar, a contar, a cantar e a me encantar novamente com a vida:

O sapinho esperto

Sabem aquela montanha, lá longe... atrás dela tem outra montanha ainda maior. Descendo por ela, vocês encontrarão uma floresta e dentro desta floresta uma árvore bem grande, onde o Rei Leão toma conta até hoje! Há muito, muito tempo atrás, aconteceu que a mamãe sapa e seus três filhos sapinhos iam passando por lá , quando os sapinhos pediram para a mãe sapa para subirem no topo da árvore. A mamãe sapa toda preocupada respondeu aos sapinhos que nem mesmo o Rei Leão tinha conseguido, imagina que eles tão pequenininhos iriam conseguir! Mas os filhos insistiram tanto que a mãe sapa acabou cedendo e deixando os sapinhos irem. Então os três sapinhos começaram a subir um por um, foi quando passou pela arvore um macaco , muito esperto e pulava de um lado para outro e disse:
- Eu que sou tão esperto não consegui chegar lá em cima! Imagina que esses sapinhos vão conseguir! Neste momento um sapinho olhou para baixo e esborrachou no chão.
Inicialmente, os animais da redondeza torciam por eles. Mas quando começaram a subir, os animais começaram a dizer: "Vocês não vão conseguir! Vocês não vão conseguir!" Por isso, a mamãe sapa começou a rezar e com pensamento firme e dizendo sem parar baixinho "vocês vão conseguir, vocês vão conseguir."
Os animais gritavam: "Duvido vocês conseguirem!" Porém, os sapinhos continuavam a subir tranquilamente.
O elefante passando por perto e escutando aqueles gritos aproximou e foi logo falando: “Eu que sou o mais forte, grande não consigo chegar lá em cima, imagina só esses sapinhos magrelos!”
A mamãe sapa torcendo e rezando, bom vocês sabem como é coração de mãe né? Logo uma águia sobrevoou bem perto do topo, e foi quando a zebra disse :
- Eles estão loucos! Até a águia que vai no lugar mais alto da floresta não conseguiu chegar lá em cima, imagina só esses dois que nunca sairão daqui do chão!
Neste momento o segundo sapinho já cansado caiu no colo da sua mãe e chorou. Mas ainda restava um sapinho. Com uma força e perseverança ele foi devagarzinho chegando ao topo da árvore mais alta da floresta. Só um sapinho conseguiu chegar ao topo da arvore, e era o mais fraquinho, pequenininho. E quando ele chegou lá em cima, somente ele conseguiu ver o mais belo arco Iris. Todo mundo queria saber como ele conseguiu, e quando foram perguntar ao Rei Leão , descobriram que conseguiu simplesmente porque acreditou no seu sonho e não ficou dando ouvido aos outros.

Arte e Terapia

Contei e recontei esta história durante cinco anos em escolas do município, rurais e particulares, além de hospitais. Eu precisava falar do sapinho para os outros e para mim.O sapinho virou projeto, livro e fantoche, objetos que guardo com muito carinho.

Cheguei à conclusão que contar histórias não é só uma arte, mas uma terapia. Tenho dois motivos para me identificar com a história, o primeiro é que eu também aprendi a viver com dificuldades e nunca deixei de ter objetivos e sonhos. O outro é que sempre fui incentivada e apoiada por minha família, professores e amigos. Um dia deixei levarem meus sonhos mais lindos por dar ouvidos aos outros. Deveria ter escutado mais minha família, meus mestres e melhores amigos.

Assim como o sapinho, acredite nos seus sonhos! Não permita que as pessoas com péssimo hábito de criticar e ser negativo acabem com as esperanças do seu coração. Nunca deixe falarem que seus sonhos não se tornarão realidade.
Lembre sempre: você pode !!!

Sonia Jaqueline da Silva Oliveira é Contadora de histórias. Atuou como educadora durante dez anos na Educação Infantil. Fez pós graduaç