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Publicado: Quinta-feira, 7 de julho de 2011

Modificações corporais: o corpo como suporte da arte

Jovens utilizam a modalidade por questão estética.

Crédito: Kazuo Kajihara Modificações corporais: o corpo como suporte da arte
O historiador Thiago Soares é adepto de diversas modalidades

Por Tamara Horn

Desde os tempos mais remotos, pinturas e perfurações já faziam parte da sociedade. As mudanças corporais retratavam os costumes culturais, religiosos, medicinais, entre tantos outros. Hoje em dia, estas transformações ganharam valor estético.

Deixando de lado a (longa) história de seu surgimento, ao pé da letra, o body modification - modificação corporal – seria qualquer ação simples que interfere no corpo humano. Ou seja, uma simples depilação ou utilização de tintura nos cabelos. Para o historiador Thiago Soares, pesquisador e adepto do assunto, as formas de se alterar o corpo são infinitas. “Da alimentação ao esporte, da medicina ao piercing, são diversas possibilidades”, diz.

Já analisando as formas mais radicais, podemos encontrar diversas modalidades dentro dessa prática. Entre elas o surface, eyeball tattooing, escarificações, línguas bipartidas, implantes subcutâneos, entre outros.

Corpo como simbolismo, pele como roupa

Thiago Soares aderiu à prática com mudanças "mais leves”, como tatuagens e piercings, e aos poucos foi se aventurando nesse meio. “Por identificação com a estética proporcionada por essas práticas, pesquisando e vivenciando as experiências de cada uma transformação, passei utilizar algumas delas dentro do campo da body art”.

Ele faz questão de frisar que nem toda modificação corporal é uma arte. “A minha maior luta como pesquisador e praticante do tema é em pontuar a separação entre body art e body modification. Não dá para considerar toda body mod como arte e para se ter clara noção da diferença entre as terminologias, a body art pode acontecer sem a body mod”.

Entendendo a diferença

Muitas pessoas acreditam que a body art e a body mod têm a mesma definição, o que não é verdade. O primeiro contexto retrata o movimento artístico que usa o corpo como linguagem, ferramenta e suporte. Já o segundo termo relata todo e qualquer tipo de manipulação no corpo que pode ter fins estéticos, religiosos (espirituais) ou artísticos.

Eventos ligados à arte corporal

Em um bate-papo com Luciano Iritsu, profissional da body art, descobri que ele foi o organizador de um dos primeiros eventos de escarificação da América Latina: o Convenção de Escarificação (Conscar).

“Quando eu voltei de Londres, em 2005, e participei pela última vez com um stand na convenção Leds (convenção internacional que acontece em São Paulo, a pioneira nesse ramo) eu me encontrei e reencontrei com várias pessoas ligadas ao meio da modificação corporal, e percebi que existia uma falta de espaço para discutirmos esse tema", conta. 

"No ano seguinte, já conversando com o Danilo Skatuaba, um dos meus amigos que trabalham no meio da modificação, decidimos fazer um evento voltado para a escarificação no Brasil. Eu tinha o espaço, ele a ideia, e juntamos forças para organizá-lo”. A primeira edição do projeto aconteceu em 2005, no estúdio Iritsu Tatto Shop.

Com o sucesso veio a parceria com Thiago Soares (conhecido como T.Angel), que hoje mantém o site frrrkguys.com - portal de informações sobre body mod e body art sem abandonar o foco da discussão da beleza masculina freak. Em 2008 se uniram e preparam o Frrrkcon, um evento que discutia a modificação corporal, com performances, exposições, palestras, freak show, músicas e até a prática da suspensão.

Na Virada Cultural Paulista 2010, o profissional foi convidado para organizar o palco de arte corporal do evento. Neste ano, repetiram a dose no festival, realizado em frente à Galeria do Rock, com performances e apresentações que "deixaram o público boquiaberto" (palavras de Luciano).

Novos adeptos

Carolina Nascimento, autônoma, é admiradora da prática há anos. “Admito que quando conheci estranhei um pouco as mudanças mais radicais. Agora que entendo um pouco mais, tenho uma vontade irracional de fazer cada uma das modificações”. A garota é um pouco “crua” e grava em seu corpo apenas tatuagens simbólicas, piercings e alargadores. “Minha mãe tem 54 anos e já foi um ‘baque’ quando ela viu meu corpo todo desenhado. Ela tem outros olhos, é conservadora, e por isso não radicalizei totalmente”, revela.

De fato, não há como negar que o preconceito reina ao olhar dos mais conservadores e isso se dá, muitas vezes, pela falta de conhecimento no assunto. Por achar uma prática “anormal” e pouco discutida, muitos desrespeitam essa cultura e intimidam os adeptos do movimento. Por outro lado, este quadro parece estar começando a mudar. Se antes os praticantes da modificação corporal se encontravam somente nas grandes capitais, hoje já é possível ver vários adeptos em cidades do interior - sem contar que o movimento ganha cada vez mais espaço na sociedade e na mídia.

Para a tatuadora Monica Gomes do Santos, tais mudanças são muito agressivas. “Cada organismo reage de um jeito. A escarificação, por exemplo, é uma modalidade muito agressiva, maltrata muito o corpo. Procurar um estúdio bacana e um bom profissional é o primeiro passo para quem quer entrar nesse mundo”, alerta. 

O futuro

A recente atitude da polêmica cantora Lady Gaga, que em seu clipe Born this Way aparece com chifres e implantes, pode ser um impulso para tornar este movimento mais popular. Ao que tudo indica, a artista trouxe o tema à tona para realmente torná-lo algo mais contemporâneo.

Thiago Soares explica. “Todas essas práticas, obviamente que alterando métodos, são milenares. Eu acho que sempre haverá grupos mais conservadores e que vão defender a ideia de que o corpo não deve ser tocado, o que é uma bobagem, pois não existe um corpo que não seja. A grande bola da vez da cultura pop, Lady Gaga, constantemente flerta com corpos ‘diferentes’; para mim, isso é um grande sinal das proporções que tais práticas tomaram na contemporaneidade".

Ao que tudo indica, estas adaptações realmente prometem trilhar um longo caminho e surpreender a todos a cada dia. Sejam por questões estéticas, religiosas e/ou culturais elas com certeza ainda darão muito o que falar.

Modificações Corporais Extremas

Surface – O objeto é implantado como se fosse uma "trave ao contrário", cujas pontas ficam para fora da pele e a haste fica dentro.

Eyebaal tattooing - A esclera pode ser pintada através de dois p

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