Publicado: Terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Depoimento de Allie de Queiroz
Lilian SartórioO Regimento Deodoro faz parte da minha história. A casa de meus avós fica a um quarteirão do quartel e, quando era menina, pregava sustos na gente.
Nas comemorações das datas cívicas, os canhões disparavam tiros, que faziam um barulhão, as vidraças tremiam e até os copos de cristal guardados na cristaleira se agitavam. A avó corria para ver se não tinha nenhum quebrado e depois acertava o prumo do relógio de carrilhão, que também destrabelhava com os tiros.
Era também um sinal de que os soldados estavam prontos para desfilar e a gente saía correndo para a esquina para ver a parada.
Chamava muita atenção da criançada o mascote do regimento, que era um carneiro, vestido em trajes de gala, com um colete com o emblema do exército. Ele abria o desfile, todo imponente, puxado por um soldado, certamente também orgulhoso de sua importância.
Com o tempo os tiros de canhão foram rareando, os desfiles ficando restritos a umas poucas ocasiões e até a leva de soldados que, todas as sextas-feiras debandavam para suas casas quase não existem mais.
Porém, as histórias mais interessantes eram contadas por meu avô, Marius Amirat Braga, que foi prefeito na época de Getúlio Vargas e conviveu amiúde com os comandantes, em um tempo de convívio bem delicado entre o "Estado Novo" e os políticos ituanos, orgulhosos e teimosos. Eram histórias que sempre tinham um toque desse humor caipira, que "comendo pelas beiradas", acabavam contornando situações bastante sérias, naquele momento político.
Allie de Queiroz é psicóloga, foi secretária municipal de Governo, Gestão e Planejamento, Diretora de Comunicação Social, Secretária de Educação e Diretora de Turismo ao longo de 12 anos. É diretora artística da Associação Cultural Vozes de Itu e colunista do itu.com.br.
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