Opinião

Publicado: Quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Piero Vergílio: A pior das limitações

No Brasil existem 24 milhões de pessoas com deficiência.

Crédito: Arquivo Pessoal Piero Vergílio: A pior das limitações
"Deficiência não é, nem nunca será sinônimo de incapacidade."

No dia 03 de dezembro, foi celebrado o Dia Internacional da Pessoa Com Deficiência. Especialistas concordam que o maior desafio enfrentado por essa parcela da população – que somente no Brasil, conforme dados do último censo, chega a 24 milhões de pessoas – é o ingresso no mercado de trabalho e, embora as discussões acerca de estratégias em prol da inclusão sejam cada vez mais frequentes, a realidade prova que ainda são muitos os obstáculos a serem vencidos.

Se levarmos em consideração o número de deficientes empregados (1,2% desse total, que equivale a menos de 300 mil pessoas), a situação ganha contornos ainda mais claros, ou por que não dizer, alarmantes. A falta de qualificação, apontada por muitos como a raiz do problema, é na verdade, apenas parte dele. Na verdade, é preciso que haja uma mudança de cultura, no qual a capacidade do profissional não esteja relacionada à sua limitação, seja ela qual for.

Assim, deve-se ficar bem claro que deficiência não é, nem nunca será sinônimo de incapacidade. Para que isso aconteça, de fato, é preciso reconhecer a maior de todas as limitações: o pré-conceito. Se isso não bastasse é importante chamar a atenção para outro dado, no mínimo, contraditório: não são raros os locais em que sobram vagas para pessoas com necessidades especiais.

Falta de qualificação? Não necessariamente. Os cargos e cursos oferecidos, em sua maioria, não requerem um grande volume de conhecimento ou habilidades específicas, como auxiliar de limpeza, telemarketing ou faxineiros. Minha intenção aqui não é nem de longe desmerecer a nenhum destes profissionais – que, ao contrário, detém todo o meu respeito – mas enfatizar o quão raro é um deficiente exercer uma função estrategicamente importante dentro de uma corporação.

Isso significa que o deficiente deve ficar resignado ao estereótipo que a sociedade lhe impõe? Eu lhes diria, por experiência própria – desculpem-me, esqueci de dizer aos leitores que sou cadeirante. Isso importa? – que essa é uma batalha árdua, que, se vencida, traz resultados realmente compensadores: formado há quase cinco anos em Jornalismo, posso dizer com orgulho, que este 2010 que está prestes a terminar, foi meu melhor ano profissional até então: apesar da instabilidade típica do freelancer, venho conquistando, gradativamente, meu espaço no mercado.

Antes de encerrar, duas importantes observações: de certa forma, todas as pessoas são limitadas e apresentam suas próprias dificuldades, embora elas não sejam aparentes. E a você, que assim, como eu, possui alguma deficiência, um lembrete: não se esqueça de escrever sua própria história e não meça esforços para transformar seus projetos em realidade. Embora insistam em nos responsabilizar, a verdade é que nem todas as empresas estão corretamente preparadas para nos receber. Por essa razão, aquelas que já o fazem, merecem todo o meu respeito.

Piero Vergílio é jornalista freelancer. Mantém o blog www.pierojornalista.blogspot.com e colabora com a Revista Regional e a Revista Zunzunzum. Também possui experiência na área de assessoria de imprensa. Escreveu este texto especialmente para o espaço OPINIÂO do itu.com.br.

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