Publicado: Terça-feira, 6 de fevereiro de 2007
400: É pic, é pic, e bum!
Nesta época, assim como em outras tantas oportunidades espalhadas ao longo do ano, a cidade fica repleta de sonhos. Em cada esquina, curva da Estrada Parque, ou detalhe da Igreja da Candelária, um olhar se completa com um sorriso, e a imaginação dos turistas desenrolando em dezenas de fatos históricos que tornam a visita a Itu em motivo de orgulho. De fato, visitar esta grande cidade, principalmente, nas semanas em que se comemora seu aniversário, é presentear-se com momentos de intensa emoção, e contato com as mais puras tradições do interior paulista.
É como se todos os esforços da cidade estivessem concentrados nesta data. É uma festa belíssima, de vários dias, de banda na praça, procissão pelas ruas, sinos badalando. Por onde se anda é como se uma nuvem de satisfação, e cordialidade, estivesse pairando no lugar do oxigênio respirado às pressas no dia-a-dia da cidade. Contudo, os turistas sempre pedem mais, então, uma visita à fazenda, um almoço saboroso, e compras de souvenirs ao final do dia. Parece perfeito porque o turismo parece sempre perfeito.
Porém, não se podem deixar enganar aqueles que, do outro lado, sobrevivem da atividade turística. Entramos nos festejados 397 anos ainda amargurados com o péssimo desempenho de 2006. Queda na taxa de ocupação hoteleira, no fluxo de visitação das fazendas, nas vendas de artigos do exagero, enfim, no número de grupos de turismo na cidade. O primeiro semestre do ano que passou, passou, simplesmente, e o nosso produto intangível, porém, perecível, apodreceu sem sequer ser considerado. O cheiro do podre incomoda, é tema de encontros, mas não há números oficiais, não há pesquisa, não existem projeções. Dessa forma, ainda em recuperação, festejamos o aniversário, e ficamos felizes em rever os turistas, porém, a incerteza ronda os bastidores do trade onde, efetivamente, se pensa no turismo como atividade econômica. Não há peneira suficiente para tapar certas situações, e nem reuniões o bastante para evita-las.
Prova disso, são descasos como o qual vem sendo cometido com um dos principais pontos turísticos da Cidade dos Exageros. Responsável por parcela considerável do fluxo de visitantes durante o ano, o Parque do Varvito é patrimônio tombado pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico, e Turístico do Estado de São Paulo), e, considerado em uma classificação recente, uma das 7 maravilhas de Itu. Suas fotos ilustram folders, revistas especializadas em Geologia, e suas referências desfilam entre estudantes e universitários de todo o país, dada a importância de seu bem mais precioso: um paredão único formado por uma rocha sedimentar em camadas, cuja data ultrapassa 200 milhões de anos. Tudo isso, durante o mês de janeiro, inacessível aos turistas desavisados que só encontraram o mato crescente, e a justificativa irônica de “Estamos em Manutenção”.
Por outro lado, uma grande conquista foi efetivada no último ano. Sim, nós temos portais! Nas principais vias de acesso da cidade, agora, estão sendo construídos os Portais Turísticos que há tanto tempo eram discutidos por todas as siglas turísticas de Itu: COMTUR, PRÓTUR, NG+, e até no PDTR, do SEBRAE. Infelizmente, estamos felizes com sua construção, não com seu funcionamento. Há meses o primeiro deles foi concluído, inaugurado, e entregue à comunidade, porém, não há sinais de utilização a não ser pela Guarda Municipal, que na realidade ainda aguarda pelas câmeras de monitoramento, e de melhores condições de segurança. Um elefante branco turístico, sem nada de turístico, sem nada de segurança, somente uma frase inoportuna no lugar do tradicional e certeiro “Seja bem vindo a Itu”. Que Deus, citado no portal, abençoe tanta falta de planejamento que permite uma construção dessa natureza ser inaugurada sem a estrutura adequada.
Contudo, não gostaria que o leitor ficasse com a sensação pura, e única, de meu descontentamento com algumas situações. Há, sobretudo, um projeto muito bom em andamento, merecedor de crédito, principalmente, porque não é imediatista, e prevê resultados em longo prazo. Tal iniciativa está sendo conduzida com o apoio da Secretaria de Turismo de Itu, porém, viabilizado através do esforço inequívoco do Guia de Turismo Fábio Grizoto, que já apresentou seu projeto em Seminários no Rio de Janeiro, e Belo Horizonte. Trata-se da instalação de um trem turístico ligando Itu a Salto, resgatando uma das vias férreas mais antigas do Estado de São Paulo. Esta seja, talvez, a grande oportunidade de crescimento do Pólo Turístico do Alto Médio Tietê que há tantos anos vem sendo discutido, mas não tem contado com idéias criativas e originais. Iniciativa que, juntamente com a luta saltense pela navegabilidade do Rio Tietê, pode gerar novas características à região, e revitalizar as potencialidades atuais. Essa, bem como, o fortalecimento sem degradação do Turismo Religioso em Pirapora do Bom Jesus; a retomada dos alambiques em Cabreúva; a preservação do Conjunto Arquitetônico de Santana de Parnaíba; talvez sejam bandeiras bem mais valorosas para o turismo na Rota dos Bandeirantes quando se pensar em motivos de comemoração dos 400 anos. O projeto ituano já conta com a Locomotiva e os Carros de Passageiro, porém, a revitalização e instalação dos trilhos ainda necessitam do apoio de investidores interessados no fortalecimento da região através do turismo.
Mesmo assim, que venham os turistas, afinal, a cidade continua linda. E nós, vamos fingir, de maneira muito alegre e sorridente, contar de forma regressiva os dias para mais uma festa. Vamos lá: é pic, é pic, é hora! Viva a confusão, o sumiço do orelhão, rá-tchim-bum! Viva a explosão de Itu! Desculpem, aniversários me deixam um tanto depressivo, e franco demais...
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