A amante
Todos ali estranharam a mulher que chorava copiosamente. Não era carpideira, nem parente. Era loira e perdera a noção do cuidado desde ontem, deixando escapar os murmúrios da amante abandonada. O homem, vítima de desastroso acidente, viajava em féretro lacrado. A esposa, ainda em choque e sem comer, não percebera os excessos da outra até ser alertada pela cunhada que cochichou suas ideias vis, saiu e foi sentar-se no fundo do salão. Dali ficou assistindo, satisfeita, desde o momento em que a esposa olhou estranhamente para a mulher até quando rolaram no chão com puxões de cabelo e enlutados tentando separá-las. Os insultos foram de "vadia" a "destruidora de lares". A loira, combalida, apenas se defendia com gritos chorosos e vergonha. Após ser expulsa com o vestido rasgado e descabelada, cambaleando no corredor do prédio fúnebre e sob os olhares espantados até das pessoas noutras salas de vigília, leu o nome do verdadeiro marido traidor sendo velado noutro ambiente. Decidiu não entrar.
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