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Publicado: Sexta-feira, 9 de novembro de 2018

A Arte de Entrevistar

Crédito: Internet A Arte de Entrevistar
Entrevistar não é fazer pergunta boba, descabida ou desrespeitosa.

No trabalho diário de um repórter está, entre outras coisas, o desafio de conduzir entrevistas. Além da forma clássica, eu pergunto e você responde, há também as perguntas feitas com o objetivo de ter informações básicas para elaborar uma matéria qualquer, noticiosa ou em forma de arquivo. De qualquer modo, saber perguntar é o primeiro segredo para conseguir boas respostas.

Antigamente era mais complicado fazer entrevistas. O repórter precisa anotar tudo ou ter memória de elefante, como se diz. Para escrever literalmente as respostas do entrevistado, não dava. Era necessário anotar em forma de tópicos, frases fortes ou diferentes, palavras-chave, etc. Muitas vezes uma fala acabava imprecisa, pois o repórter não se lembrava com detalhes do diálogo realizado com a fonte.

Hoje em dia as coisas estão mais fáceis. O repórter dispõe de inúmeros modelos de gravadores digitais ou pode até mesmo utilizar um simples telefone celular. Com o áudio todo registrado, basta transcrever os pontos mais interessantes na matéria. Assim, as imprecisões também ficaram reduzidas e até quando um entrevistado quer voltar atrás no que disse, já não é mais possível.

Melhor aparato tecnológico, porém, não significa entrevista de qualidade. Confiando demais na tecnologia, infelizmente muitos jornalistas mostram-se bem despreparados. Não é qualquer um, com gravador na mão, que entende necessariamente da arte de entrevistar. Nas faculdades de Comunicação Social ou na prática da profissão, o jornalista precisa entender que há alguns quesitos básicos.

O primeiro é fazer a lição de casa: antes de conversar com o entrevistado, investigar sua biografia e realizações. Somente assim é que se sabe com quem se está falando. Isso é muito importante para não fazer perguntas bobas ou repetitivas. É também um sinal de respeito, pois o jornalista teve o interesse de se preparar basicamente antes da entrevista.

Outra obrigação é preparar uma pauta simples de perguntas, para não ficar sem nenhuma ou chovendo no molhado. Nada mais irrita um entrevistado do que perguntas bestas, pois denota uma gigante falta de respeito. É claro que, no meio da entrevista, outras perguntas certamente surgirão. A pauta prévia auxilia a quebrar o gelo e a iniciar o assunto.

Na hora de entrevistar, o repórter também precisa ter postura respeitosa. Respeitar o entrevistado é obrigação e não por servilismo, mas por educação. Jornalista que pretende se destacar fazendo perguntas marotas ou nonsense, não sabe o que está fazendo. Isso pode servir para entretenimento, mas não para o jornalismo de verdade. O bom profissional da Imprensa pergunta o que quer e sobre o que quiser saber, tudo com educação e fleuma.

A colaboração do entrevistado não termina quando acaba a entrevista. Ele poderá ajudar também durante a transcrição do material. Durante as perguntas pode ser que uma resposta ou outra fique um tanto dúbia ou confusa. O melhor a fazer não é adivinhar uma solução, mas ligar para o entrevistado e esclarecer o que ele desejou dizer afinal. Não há nada pior do que um repórter que, ao transcrever a resposta do que perguntou, deixa ao leitor uma resposta sem pé nem cabeça.

Por fim, mas não menos importante, o repórter deve saber que não tem o direito de perguntar sobre tudo. Dependendo do entrevistado, certas perguntas não contribuem em nada. Questões pessoais ou íntimas, dependendo de quem se entrevista, são inconvenientes. Quem entrevista deve ter bom senso e educação, que são de berço.

Quantas coisas são necessárias para uma boa entrevista! É por isso que dá pena dos leitores, por tantas feitas sem qualidade... É por falta de preparo que temos visto, nos últimos tempos, tantas fontes irritadas com perguntas tão descabidas, feitas por jornalistas tão despreparados!

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