A arte de envelhecer...
“Nunca pare de começar, nunca comece a parar”. (slogan do Colégio Divino Salvador)
Registros indicam que, no início do século passado, a média de vida beirava os míseros 30-35 anos; hoje ultrapassa os 72 anos. Muita coisa explica essa mudança, principalmente os avanços na área da biologia e das ciências médicas: vacinas, remédios, procedimentos...
Se a fonte da juventude continua uma utopia, a longevidade é cada vez mais possível. Há algum tempo assisti a uma reportagem mostrando pessoas de idade avançada e com qualidade de vida. Chamou-me a atenção o caso de um cirurgião cardiovascular americano que, aos 94 anos continuava operando normalmente e cuidando de seu grande jardim; também uma velhinha, aos 104 anos, levava uma vida normal, a cuidar de si e da vida da casa, incluindo horta e animais. Privilégio? Sim, mas certamente o estilo de vida deles e sua postura em relação à vida têm muito a ver com isso. Em comum a todos os casos semelhantes está sempre a preocupação com uma alimentação saudável e exercício físico, o que nos leva a concluir que “oproblema da velhice não é a idade, mas a inatividade”. Para essas pessoas a aposentadoria não existe; as atividades mudam de tipo ou de ritmo, mas continuam.
Nosso desejo é viver bastante, mas não gostamos da ideia de ficar velho. Entretanto, no grande projeto da vida, o envelhecer é inevitável. Estamos aqui de passagem; a eternidade está reservada a nossa alma imortal. Ao corpo cabe a tarefa não menos nobre de abrigar a alma e o Espírito.
Embora isso esteja muito claro, o homem nunca se conformou nem com a morte nem com o envelhecimento.
O desafio é encontrar um meio de perpetuar os encantos e a robustez da juventude. Ao longo de sua existência, o homem tem-se aliado a inúmeros recursos: águas milagrosas, chás, raízes, poções mágicas, amuletos que ao final se revelaram ineficientes, não passando de crendices e misticismos. Um festival de espertos, enganadores e enganados... Entretanto o comércio da juventude continua cada vez mais intenso e lucrativo, faturando milhões em cima de algo desejado e fictício.
Tudo se agrava porque, associada ao envelhecimento, não estão somente a perda das forças físicas ou mentais, a incapacitação para determinadas tarefas e feitos, mas algo que mexe fundo com a vaidade humana: a beleza física, a beleza da plástica e das formas. E aqui os exageros são incalculáveis. O culto ao corpo, decorrente da supervalorização da beleza, deu razão a quase tudo: alimentos, medicamentos, "drogas", academias, cosméticos, aplicações, cirurgias e o que mais possa aparecer. Vale tudo para perder uns quilinhos ou umas gordurinhas que impedem esta ou aquela roupinha da moda. Quando o corpo é tudo, o envelhecimento torna-se um vilão a ser combatido com todas as armas, válidas ou não, racionais ou não.
Temos que deixar claro que é condenável aceitar pacificamente a velhice ou mesmo apressá-la com nossas imprudências e nossos descuidos. É um erro recusarmos ou mesmo não recorrermos aos reais avanços da ciência em prol de uma melhor qualidade de vida que pode se prolongar até nossos últimos dias.
Segundo o médico Oscar Del Pozzo, algumas pessoas são vacinadas contra a velhice... continuam ativos em suas atividades, diminuindo o ritmo ou enveredando para outras atividades que continuem lhe dando prazer e satisfação... Outros, talvez a maioria, acabam cedendo às pressões da idade, pouco ou nada fazem de útil para ocupar o seu tempo, sentindo-se velhos precocemente.
É importante acompanhar a vida e ir percebendo as coisas boas e não ficar contabilizando apenas as perdas e as limitações naturais e inevitáveis. A cada etapa ou momento de nossa vida somos diferentes e enfrentamos desafios diferentes...
Fazer aniversário é sempre bom. Afinal a idade só incomoda a quem se sente velho! Ser idoso não é o problema, o problema está em se tornar velho, se sentir cansado, desanimado... e isto pode ocorrer independentemente da idade.
Encerramos com o pensamento de Sêneca:“Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem. Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres.”
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- valdomiro carezia