Publicado: Quarta-feira, 15 de outubro de 2008
A Baixa-Chiado do Marquês de Pombal
“Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quanto menos, os seus companheiros de espírito?” Fernando Pessoa
Eu prometi falar-lhes do Chiado, e esse é um tema muito entusiasmante!!!
Chiado concentra nas suas ruas, ruelas e avenidas de tudo um pouco, e é isso que me leva a passar horas por lá quase todos os finais de semana, observando pequenos nichos que se concentram naquele lugar, desde ingleses e alemães com seus copos gigantes de cervejas, a espanhóis e italianos entusiásticos, brasileiros com seu famoso “oi?”. Os ciganos e sua sanfona fazendo serenata aos turistas a troco de alguns cêntimos, os ceguinhos, os pedintes, os indianos e os kebabs, as feiras de artesanato, as feiras de livros manuseados, o entra e sai dos cafés, Fernando Pessoa a observar perplexo isso tudo em frente ao seu lugar de eleição: o café “A Brasileira”, Pessoa que tinha uma relação muito forte com o Chiado, pois nasceu em um prédio em frente ao Teatro São Carlos; bem como Luís de Camões, no largo com seu nome.
Conta-se que, uma das hipóteses do nome Chiado remonta para o ano 1567, e que se refere ao chiar das rodas das carroças que subiam as ruas íngremes daquela região (não esqueçam as colinas!).
Para além de tudo o que citei acima, o Chiado é tradicionalmente conhecido pelo papel intelectual que desempenhou anos atrás e que inspira artistas contemporâneos. Sempre foi o ponto de encontro dos literários e políticos, numa época em que a concepção política dominante não era a mais favorável, então todas essas reuniões eram muito disfarçadas em simples idas ao café. Aqui encontramos diversos teatros, como o São Luís, Teatro da Trindade e o Teatro São Carlos, o único teatro de ópera em Portugal, onde Maria Callas deu um belíssimo espetáculo!
É de ressaltar que, após o terramoto que devastou Lisboa, em 1755, toda a região onde se encontra o Chiado foi totalmente reconstruída, por ordem do Marquês de Pombal, sendo conhecida hoje como baixa pombalina. Essa arquitetura é formada por ruas retas e perpendiculares, sendo a Rua Augusta o eixo central. É um dos primeiros exemplos de construção anti-sísmica e foi candidata portuguesa a lista de Património Mundial, declarando-a superior às áreas planejadas de Edimburgo, Turim e Londres, e é interessante saber que a inscrição alega que os planos da reconstrução de Londres após o Grande Incêndio não implementa os princípios gerais conseguido pela zona pombalina.
O Chiado também foi alvo de um grande incêndio que se deflagrou em Agosto de 1988, tendo início em um armazém. Entretanto, o projeto de renovação preservou muitas fachadas originais, sendo dirigido pelo arquiteto português Sisa Vieira.
Hoje o Chiado reúne manifestações politicas, espetáculos de artistas, hotéis e restaurantes renomados, galerias de arte, ateliers de alta costura, livrarias e cafés famosos.
E não posso deixar de salientar que todo esse burburinho frenético diurno, contrasta com o abandono dos prédios para habitação nessa região, por total desleixo dos governantes, o desinteresse dos proprietários dos prédios devido ao custo em se remodelar as habitações mantendo a fachada. Hoje em dia a grande discussão que está se colocando nos plenários é a dinamização da baixa, a reestruturação em termos habitacionais, para haja mais vida para além da hora comercial.
Fica aí mais um ponto a considerar sobre “meu sentir” em relação a Lisboa.
O que virá a seguir?
Comentários