A cada oportunidade, elogie
Nos últimos dez anos da minha carreira no Banco do Brasil, tive agregada a minhas funções, a de instrutor de funcionários, em cidades próximas e distantes, neste e em outros estados. Um período excepcionalmente grato. Mais ainda, quando, após a aposentadoria, o Banco me ensejou a continuidade dessa tarefa por mais dois anos, sob contrato.
A surpresa do pessoal acontecia na aula derradeira, quando somente aí eu declinava a condição de aposentado.
Sem que constasse diretamente da essência do curso e sem constar manifestamente esse aspecto no tema como tal , com o tempo divisei nele lado todo particular – o de que sempre que acontecesse uma ação manifesta e livremente bem feita de alguém, deveria seguir-se um elogio sincero ao protagonista.
Sem afetação nem exageros,com naturalidade, aos poucos adotei essa prática. Pois confesso que se é prazerosa a quem a recebe também o é para quem a faz.
Já ouvi reparos a dizer-me afetado, porque até no mero balcão de supermercados, se o atendente o mereça, inclusive as do sexo feminino, faço-lhes o devido elogio. Sai sincero, respeitoso e espontâneo.
Vejam este caso.
Meados de deste dezembro.
Em andanças com a neta Ana Júlia – que menina linda nos seus treze anos, sem corujice do avô ! – por um shopping novo, de súbito ela sugere determinado artigo para presente. Entrei na loja, vi e saí. Dez passos além, voltei.
- Quanto custa?
Assustei no primeiro momento e saí de novo. Menos de cinquenta metros andados, retornei.
- Por favor, embrulhem a mercadoria.
O tamanho da caixa e os enfeites a emoldurá-la torrnou tudo algo desajeitado para o transporte manual.
Dias antes do Natal, mais precisamente no sábado 21, o favorecido daquele artigo demonstrou não ter apreciado o presente.
Necessário contar aos leitores o quanto fiquei sem jeito e decepcionado mesmo.
O que fazer?
Pensei tantas coisas. O preço não fora nada módico, em face da qualidade do produto e de sua serventia diária.
Decidi fazer a troca, pois os dias de mera devolução já tinham passado, além do que esse intento, se não se alegar defeito, muitas lojas nem aceitam.
E a nota fiscal? Decididamente, de bem guardada, não consegui me lembrar mais de onde a deixara.
Dia 22 retornei à loja. Não era em Itu. Não contei nem avisei ninguém.
A mercadoria, bem empacotada, ficou no carro, tamanha a incerteza de êxito na empreitada.
Procurei o mesmo funcionário que me atendera.
Expliquei de alguma forma e como pude que aquela compra não dera certo e, para surpresa dele e das colegas, de que fora considerado caro demais.
- Mas não foi o senhor que comprou? O problema seria somente seu.
Talvez essa conversa preliminar tenha amainado tudo e não se falou em nota fiscal, pelo que mantive silêncio.
Mateus, o vendedor, deixou-me à vontade para escolher o que quisesse. Esteve me acompanhando e, como àquela altura, de um produto eu resolvera adquirir vários até inteirar o valor da compra, ponderei que não se prendesse tanto comigo.
Fiquei ali mais de uma hora, remexendo em tudo. Ele, o Mateus, vinha ver o que pegara e ia mandando a caixa somar. Houve um instante em que, já escolhido um aparelho, desisti dele e, lá ia o Mateus corrigir a conta. Paciente e educadamente.
Os bens selecionados passaram um pouco o valor do crédito, o que naturalmente foi pago por fora.
Procurei pelo Mateus e não só agradeci como fiz questão, perto de outros funcionários e fregueses, de elogiar a atenção e cuidado demonstrados por ele, ao deixar um cliente que tanto amolou, satisfeito plenamente.
Nessa troca, na verdade, adquiri peças e instrumentos vários, aí então para meu uso.
Embora ainda se viva sob a aura do Natal, já se escuta porém o ranger das imensas portas do ano que chega e, desde já, uma quente saudação e agradecimento aos prezados leitores e amigos tantos.
Feliz 2014.