A casa das almas penadas
Leônidas e Magda, professores recém formados e recém casados, foram lecionar numa cidadezinha distante...
Conversando com um companheiro de viagem, antes mesmo de chegar a Santa Cruz das Pedras, tomaram conhecimento da lenda que levara a cidade a ser conhecida como Santa Cruz das Almas Penadas.
- Por quê “das Almas penadas”? - perguntou curioso o Léo.
Porque havia um casal de velhinhos que morava em uma casa e foram assassinados por um ladrão que acabou sendo morto também pela polícia.
Os herdeiros não tomaram nenhuma providência para apossar-se da casa e esta ficou fechada, o mato crescendo a volta num abandono completo. E foi então que começaram a aparecer fantasmas na mesma.
- Fantasmas!? Que coisa sinistra!
Léo estava cada vez mais interessado na história, mas Magda não estava gostando, já começava a sentir arrepios.
Era só o que faltava! Eles irem parar em uma cidade assombrada “Santa Cruz das Almas Penadas”!
- Dizem que são as almas dos velhos que querem se vingar do assassino, e a deste que não encontra a Paz por causa de seu crime..
- E daí?
- Ninguém se atreve a passar muito perto, mas dizem que há um assobio constante lá dentro e de vez em quando aparecem à noite luzes, vozes e fantasmas que podem ser vistos e ouvidos de longe.
Todos se fecham em casa e os mais religiosos fazem uma corrente de orações pelas almas penadas. Até que tudo se aquieta e a casa fica mergulhada na escuridão.
E o que você acha que os fantasmas podem fazer para as pessoas terem tanto medo?
- Não sei, mas ninguém quer pagar pra ver.
Léo gargalhava por dentro. O fantasma não o atemorizava, pelo contrário, antes de descer na pequena estação já estava decidido a desvendar esse mistério, desmascarar quem estivesse fazendo essa brincadeira.
Magda, um tanto apreensiva com o começo do casamento, a sua iniciação como professora, a experiência de, pela primeira vez, sair de sua cidade, da proximidade de seus familiares e amigos, ficava apavorada com o entusiasmo do Léo.
- Você está louco! Nem bem chegamos e já está querendo arranjar confusão. Vamos fazer o nosso trabalho do melhor modo possível e procurar viver amigavelmente com todos que é melhor..
- Mas eu vou fazer o meu trabalho muito bem feito, fazer amizade com todo mundo e desvendar o mistério das Almas Penadas.
No dia seguinte foi conversar com o único soldado que fazia a segurança da cidadezinha pacata.
- Não, professor! De jeito nenhum eu vou mexer com isso. Afinal eles não fazem mal a ninguém, pra que provocar?
- Mas você não acha que deve haver alguma coisa por trás disso? A troco de que alguém ia inventar uma brincadeira dessas?
O soldado arregalou os olhos:
- Isso é coisa do além, de almas penadas ou do próprio demônio.
- Você acredita mesmo nisso?
- Por que não? Há tanto mistério neste mundo!
Mas Léo não era homem para recusar um desafio.
Numa tarde, enquanto Magda foi à cabeleireira, aproveitou sua ausência para ir ver de perto a casa assombrada.
A luz do dia era apenas uma casa abandonada rodeada de mato.
Não foi difícil arrombar o cadeado simples que fechava a porta do fundo e adentrar a casa.
Logo a entrada, como que a espantar qualquer intruso estava uma caveira que Léo logo percebeu ser artificial, uma tosca escultura, e mais para dentro, todo o material usado para os efeitos sonoros e visuais que assustavam os moradores, lençóis brancos, fogos de artifícios e em um dos quartos o principal, uma quantidade considerável de drogas e armas.
O resto foi óbvio.
Léo foi à polícia, fez a denúncia anônima e acabou com a brincadeira dos traficantes e o diferencial da pacata Santa Cruz das Pedras, ex-Santa Cruz das Almas Penadas.