A deusa da minha rua
Nunca estive tão perto do Céu e nem tão longe de alcançá-lo. É lá que mora a deusa da minha rua. Ali tão perto e ao mesmo tempo tão distante. Como os deuses, ela também ignora a minha existência. Sou um mísero grão de areia perdido no infinito do universo escuro.
Não há como descrever a deusa da minha rua. Ela é bela, charmosa. Tem um “quê” inexplicável, inenarrável. Perto dela a gente perde a fala, o raciocínio trava. Todos viram crianças balbuciando palavras sem sentido. Ela assiste tal pasmaceira com paciência divina, acostumada que está com a admiração alheia.
Para os olhos de quem não está sob seus encantos, trata-se da mais simples mortal. Porém, eu que estou sob sua influência, não tenho como escapar. Quando passa, parece um cometa. O olhar se desvia de qualquer outra coisa. O globo deixa de girar por alguns segundos. A respiração falta.
Quisera eu que ela me notasse, soubesse o que passa pela minha mente ao simples sinal de sua visão. Quisera que escutasse o tom acelerado do meu pulso ao vê-la surgindo lá na esquina. Quem dera se impressionasse e até (por quê não?) viesse me perguntar a razão de tantas reações.
A mim só me cabe continuar com minha devoção. Secreta, mas verdadeira. Despercebida, mas real. A deusa da minha rua continuará reinando nos meus sentimentos. Mesmo sem saber que detém tal poder sobre mim. Até o dia em que o manto caia por terra e os sentimentos se revelem. O grande enigma é saber se tal dia chegará...
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- salathiel de souza