Publicado: Segunda-feira, 11 de agosto de 2008
A Família dele
Quando Roberto convidou Helena para almoçar com sua família no Dia das Mães, Helena ficou radiante. Muito só, as datas comemorativas eram, em geral, tristes para ela. Os amigos dispersavam-se, cada qual para junto dos seus e ela sempre acabava ficando só.
Tinha muita vontade de conhecer a família do Roberto, pois ele sempre falava com muito carinho de todos. Era muito apegado aos seus e isto parecia a Helena uma de suas melhores qualidades. Dizem que o bom filho sempre dá bom marido!
E, por falar em marido, o convite para ir a sua casa sugeria um namoro sério, quem sabe um próximo pedido de casamento... Helena produziu-se o melhor que pode para o evento. Um modelito elegante e moderno, sandálias finas, uma joiazinha, uma maquiagem caprichada, um buquê de flores para oferecer a Mãe homenageada.
Mas, chegando a sua casa teve uma surpresa. Ela esperava um almoço meio formal, servido na sala com a presença dos pais e irmãos de Roberto, no máximo seis ou oito pessoas, mas o que a esperava era um movimentado almoço de fundo de quintal a base de churrasco.
À volta de uma enorme e rústica mesa de tabuas sobre cavaletes, espremiam-se umas vinte mulheres, comendo e conversando animadamente enquanto os homens tomavam conta da churrasqueira, servindo-as atenciosamente, bem passada pra esta, mal passado pra aquela, uma lingüicinha daqui, um queijinho dali...
Quando Roberto e Helena aproximaram-se da mesa, fez-se silêncio os garfos com carne espetada pararam no ar e todos os olhares dirigiram-se para Helena que muito desconcertada sentiu-se corar. Roberto apresentou todo mundo rapidamente, Cleuza, Fátima, Vó Amélia, Tia Mariquinha...
Todos sorriram amarelo e Helena teve ímpetos de sair correndo dali. Quase um século depois a mãe do Roberto veio cumprimentá-la. Pegou o buquê que ela lhe oferecia com visível indiferença e imediatamente pediu para alguém colocá-lo sobre a pia onde ficou o resto da tarde murchando. Com certeza teria preferido ganhar um par de chinelos ou uma panela pipoqueira, pensou Helena.
Alguém apareceu com um banquinho e colocou num canto de mesa entre a mãe e a Tia Mariquinha convidando Helena para sentar-se. O papo corria solto. Mães contando as gracinhas de seus filhos e criticando a falta de educação dos filhos das outras.
Maledicência. Vidas alheias sendo devassadas, arrastadas pela lama sem dó nem piedade. E Helena aborrecida, sem graça, arrependida de ter vindo. Ainda bem que não conheço ninguém de quem estão falando. Não tenho nada com isso!
A “sogra” tentando ser gentil puxou conversa com Helena:
- Você não vai visitar sua mãe, hoje?
- Não. Minha mãe é doente e não pode receber visitas.
- Nossa! Deve ser muito grave mesmo para não poder receber nem a filha!
- É um problema mental.
- Que horror!
Helena recriminou-se por estar falando essas coisas, mas a outra perguntava e ela não sabia como não responder.
- Faz muito tempo?
- O que?
- Que sua mãe está internada.
- Dezoito anos.
- Nossa! Você era pequena ainda. Quem foi que acabou de criá-la?
- Eu cresci em um colégio interno.
- Orfanato?
- Não! Um colégio de madres muito bom.
- Hammm!
- E seu pai?
- Ele divorciou-se de minha mãe, casou-se de novo e mora no exterior.
- Fugiu das responsabilidades! Os homens são todos assim mesmo!
Helena odiava o rumo que a conversa tomara, mas continuava respondendo como se tivesse que dar satisfações àquela mulher da vida de seus pais.
- Ele não fugiu de suas obrigações. Pagou todo o meu estudo e ainda paga o tratamento de minha mãe. Deu-me mesada até que eu começasse a trabalhar e ainda me manda um dinheirinho de vez em quando. Não tenho queixa nenhuma dele.
A estas alturas todas as ocupantes da mesa estavam em silêncio olhando para ela. Sua história estava interessando a galera. Fofoca nova! Quando Roberto apareceu com um espeto perguntando se queria provar o filé de carneiro ela pediu:
- Leva-me pra casa! Estou com um pouco de dor de cabeça. Gostaria de descansar.
- É muito cedo, meu amor, tome um comprimido que já passa a dor de cabeça.
Como que por encanto apareceram nas mãos de Helena um copo de água e um comprimido de analgésico.
Tentou recusar:
- Não é preciso...
- Tome que é bom!
E ela engoliu o remédio de que não precisava com toda a raiva surda que a dominava
- Quer deitar um pouco? Vá lá dentro, deite na minha cama.
- NÃÃO!!
Controlou-se:
- Não, obrigada, já está passando.
A Tia Mariquinha já tinha bebido mais do que devia e os outros a incentivavam a beber mais ainda porque, diziam, ela ficava muito engraçada de pileque. O engraçado era contar piadas picantes. Quanto mais bebia mais ousadas eram as histórias, mais chulo o palavreado e mais sonoras as gargalhadas de todos.
E Helena mais deslocada do que nunca! De repente ela observou que havia um portãozinho ao fundo, perto da porta do banheiro. Discretamente leva
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