A família no documento de Aparecida - conclusão
Família, missionária e evangelizadora!
Vimos no artigo anterior um pouco da situação em que se encontra a sociedade em nosso país, onde uma “parte importante da população está afetada por difíceis condições de vida que ameaçam diretamente a instituição familiar. Em nossa condição de discípulos e missionários de Jesus Cristo, somos chamados a trabalhar para que tal situação seja transformada e a família assuma seu ser e sua missão no âmbito da sociedade e da Igreja”. (Cf. item 432)
O Documento exalta a família e confia nela como mola propulsora da conversão do homem e da sociedade, ao mesmo tempo que “cobra” da Igreja e demais organismos o necessário e merecido apoio. Por isso reafirma, nas palavras do papa Bento XVI, a boa nova da família: “patrimônio da humanidade, constitui um dos tesouros mais importantes dos povos latino-americanos. Ela é escola da fé, espaço de valores humanos e cívicos, lar em que a vida humana nasce e se acolhe generosa e responsavelmente... A família é insubstituível para a serenidade pessoal e para a educação de seus filhos”. (Cf. itens 114 e 302)
Na família, “Igreja Doméstica”, “se vivem e se transmitem os valores fundamentais da vida cristã”. Como autêntica missionária “se faz evangelizadora de muitas outras famílias e do ambiente em que ela vive”. Além disso, “os pais são os primeiros catequistas”, responsáveis por “introduzir os filhos no caminho da iniciação cristã”. (Cf. itens 204 e 302)
Lembra ainda o Documento que “a família é imagem de Deus”, e “está fundada no sacramento do Matrimônio”. Assim, é legítima a preocupação da Igreja por ela, “como um dos eixos transversais de toda ação evangelizadora”, valendo-se de uma pastoral familiar “intensa e vigorosa, para proclamar o evangelho da família, promover a cultura da vida, e trabalhar para que os direitos das famílias sejam reconhecidos e respeitados”. (Cf. itens 433,434 e 435)
Acrescentamos aqui palavras da Constituição Apostólica sobre a Igreja no mundo de hoje, do Concílio Ecumênico Vaticano II, “Gaudim et Spes” (Alegria e esperança), item 47, ainda atuais: “O bem-estar da pessoa e da sociedade humana e cristã está intimamente ligado com uma favorável situação da comunidade conjugal e familiar. Por esse motivo, os cristãos, juntamente com todos os que têm em grande apreço esta comunidade, alegram-se sinceramente com os vários fatores que fazem aumentar entre os homens a estima desta comunidade de amor [...]”. Lamenta, contudo: “a dignidade desta instituição não resplandece em toda a parte com igual brilho. Encontra-se obscurecida pela poligamia, pela epidemia do divórcio, pelo chamado amor livre e outras deformações. Além disso, o amor conjugal é muitas vezes profanado pelo egoísmo, amor do prazer e por práticas ilícitas contra a geração. E as atuais condições econômicas, sócio-psicológicas e civis introduzem ainda na família não pequenas perturbações.”
A seguir, alguns trechos proferidos pelo Papa Bento XVI, no discurso inaugural da Conferência de Aparecida:
Atualmente, a família “sofre situações provocadas pelo secularismo e pelo relativismo ético, pelos diversos fluxos migratórios internos e externos, pela pobreza, pela instabilidade social e por legislações civis contrárias ao matrimônio que, ao favorecer os anticoncepcionais e o aborto, ameaçam o futuro dos povos”.
“As mães que querem dedicar-se plenamente à educação de seus filhos e ao serviço da família devem ter as condições necessárias para poder fazê-lo, e para isso têm direito de contar com o apoio do Estado. De fato, o papel da mãe é fundamental para o futuro da sociedade.
O pai, por sua parte, tem o dever de ser verdadeiramente pai, que exerce sua indispensável responsabilidade e colaboração na educação de seus filhos. Os filhos, para seu crescimento integral, têm o direito de poder contar com o pai e com a mãe, para que cuidem deles e os acompanhem rumo à plenitude de sua vida”.
“É indispensável também promover políticas familiares autênticas que respondam aos direitos da família como sujeito social imprescindível”.
Podemos perceber, por essa breve reflexão, que as transformações são possíveis e dependem da sociedade e da família. O Documento, em seu item 41, nos dá o caminho: “os cristãos precisam recomeçar a partir de Cristo, a partir da contemplação de quem nos revelou em seu mistério a plenitude do cumprimento da vocação humana e de seu sentido. Necessitamos fazer-nos discípulos dóceis, para aprendermos d'Ele, em seu seguimento, a dignidade e a plenitude da vida. E necessitamos, ao mesmo tempo, que o zelo missionário nos consuma para levar ao coração da cultura de nosso tempo aquele sentido unitário e completo da vida humana, que nem a ciência, nem a política, nem a economia nem os meios de comunicação poderão proporcionar-lhe”.
Afinal: “A família faz parte do bem dos povos e da humanidade inteira”.