Publicado: Segunda-feira, 6 de abril de 2009
A favela murada
Decidiu-se delimitar as divisas das favelas cariocas, mediante a construção de muros altos e sólidos. O que, em princípio, não significa que sejam indestrutíveis. O tempo vai dizer.
A alegação para construção dessa obra monumental pelo menos no aspecto de sua extensão e alcance, é o de que justamente se impeça o permanente avanço sobre a mata, tudo, portanto, numa moderna ação salutar de caráter ambiental.
Sobre esse inesperado expediente, dividem-se as opiniões.
Uma moradora, entrevistada, declarou que se sentia uma pessoa presa, numa sensação de que se lhe quer tolher o ir-e-vir, assegurado na constituição. Talvez, - vá saber – queria passar também a conotação de que se lhe cerceia a vista para o horizonte.
Diante das investidas no morro e adjacências e até para separar contendas em grupos de traficantes a defender ou invadir territórios, é certo que diminui em muita a facilidade de esgueirar-se o malfeitor vielas abaixo e acima, até encontrar estreitos vãos de escapes e de acesso impraticável pela polícia.
Essa finalidade, de contenção de infratores no território, quase que fica evidente. E não é sem propósito que se busque tal desiderato.
É de poucos dias o entrevero que a droga provocou em plenas ruas de Copacabana, com um risco mil vezes agravado para o morador comum.
É de fato sobremodo estreita a faixa, três ou quatro quadras, entre a orla e o morro.
O acontecimento até motivou pilhéria e piadas, a dizer-se que posto em terra o muro de Berlim, inaugura-se agora o muro do Rio.
Afinal, a se pensar melhor, até caberia declarar-se que a classe pobre e a média baixa de que na maioria se constitui o ocupante do morro, ganha status de também ele, passar a morar em condomínio.
A diferença, porém, reside no fato de que os muros dos condomínios de luxo e também os muros das favelas do Rio, não tem a mesma finalidade.
Nos condomínios de luxo, o muro protege os de dentro contra os malfeitores de fora, ao passo que nas favelas muradas, o muro separa os de fora pelo temor dos que lá estejam cercados.
Em outras palavras, nos condomínios dos favorecidos busca-se viver em tranqüilidade e com os muros das favelas, procura-se alienar ainda mais os desvalidos.
A conclusão, de qualquer modo, não contempla nem ricos nem pobres. Até revela a incapacidade que tem o ser humano de viver livremente.
No fundo mesmo, uma verdade inegável:
Jamais o homem soube dividir.
O tudo ou quase na mão de poucos e para a imensa maioria, o nada.
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