A figurinha vermelha
Vivi chegou em casa trazendo no colo um cãozinho machucado:
- Veja só, Mamãe, que judiação. Acho que um carro o atropelou. Ele estava caído no meio da rua.
Deitaram o bichinho em uma almofada e, examinando melhor viram que ele não estava gravemente ferido. Com alguns cuidados, certamente, se recuperaria.
- Mas você precisa procurar o dono e devolvê-lo.
- Ah! Isso não! Se eu não tivesse trazido para cá, outro carro ia acabar por matá-lo. Eu o salvei e agora ele é meu!
- Nada disso! Já pensou como o dono deve estar triste? Vê-se que ele é muito bem cuidado. Deve ser muito estimado.
Vivi convenceu-se de que devia mesmo restituí-lo. Mas, como achar o seu dono?
Resolveu por um anúncio no jornal. Por precaução, deu apenas o seu telefone e disse que o dono devia fornecer-lhe alguns detalhes para que ela tivesse certeza de sua autenticidade.
O cão usava uma coleira na qual estava pendurada uma figuinha vermelha.
Várias pessoas ligaram, mas, quando Vivi pedia para descrever a coleira que ele estava usando, nenhuma sabia da figuinha e, eram descartadas.
Passaram-se os dias, o anúncio deixou de ser publicado e não houve mais telefonemas.
Vivi ficou feliz. O cachorrinho era dela, já que o dono não se manifestara. Deu-lhe o nome de Toquinho e passou a cuidar dele com muito carinho.
Mas um belo dia alguém telefonou e, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa falou:
- Soube que meu cachorro está com você. Ele fugiu de casa há dois meses e só não morreu abandonado porque usa uma figa vermelha na coleira. Você sabia que as figas afastam os azares?
Vivi não pode deixar de rir:
- Por que demorou tanto para procurá-lo?
- Tivemos um problema sério aqui em casa no dia que ele sumiu. Não vimos o jornal aqueles dias. Só hoje soube do anúncio e pude telefonar para você.
Muito a contragosto Vivi deu seu endereço e disse a ele:
- Pode vir buscá-lo.
Logo mais ele estava batendo a sua porta.
Era um rapaz muito simpático, que foi logo dizendo:
- Desculpe não ter vindo antes, mas eu tive um problema muito sério...
Vivi percebeu que ele queria falar e o animou:
- Não quer me contar o que foi que lhe aconteceu?
- Aconteceu que eu estava noivo, com o casamento já marcado e minha noiva, de repente, resolveu romper o noivado. Disse que tinha encontrado um ex-namorado e resolvera reatar com ele.
- Que coisa!
- Mas não foi só isso. Eu fiquei muito nervoso, não conseguia dormir e uma noite fui tomar um calmante e exagerei na dose. Quase morri! Fiquei uma semana no hospital! Pensaram que eu tentara me matar, mas não foi nada disso, não.
- Que susto! Mas agora já está bem?
- Oh! Sim!
Riu:
- Estou curado da intoxicação e da paixão!
- E você quer mesmo levar o Toco? Eu me afeiçoei tanto a ele e acho que ele também já me adotou como madrinha.
- Toco? O nome dele é Rafinha. Eu sou Rafael e ele é Rafinha.
- Eu sou Vivi.
- Sinto muito, mas não posso deixá-lo com você. Ele me faz muita falta. Você compreende, não?
- Sim... Claro que sim... vou buscá-lo...
- Olhe, não fique triste por isso. Se você quiser, eu trago ele sempre para visitá-la.
Vivi não acreditou que ele cumpriria essa promessa, mas sorriu, tristemente:
- Está bem.
Vivi esperou o rapaz se afastar para dar vazão às lágrimas;
- Que droga! Porque esse cara não morreu de uma vez?
Logo, porém, recriminou-se por seu mau pensamento.
Estou sendo impiedosa e egoísta. O Toco, isto é, o Rafinha é dele. Eu não tenho direito de reclamar nada.
Horas depois, ela recebeu um buquê de flores com o cartão:
“Obrigado pela hospitalidade e pelo carinho. Rafinha”.
- Que rapaz gentil! A sua noiva devia ser uma grandessíssima idiota para dispensar um cara tão encantador!
Contrariando as previsões de Vivi, no entanto, alguns dias depois, o Rafael trouxe o Rafinha para visitar a “madrinha”.
Conversaram muito e combinaram que todos os dias de manhã, bem cedinho, iriam juntos levá-lo para passear e aproveitavam para fazerem, eles também, uma caminhada e conversar.
Em pouco tempo, outros convites foram surgindo: um show, um jogo de futebol, um cinema, um lanche no shoping (sem o Rafinha, é claro).
E foi então que um dia, em meio a uma conversa, ela contou a ele que nunca tivera um namorado.
- Acho isso ótimo! Fiquei com trauma de ex-namorados!
E Vivi ficou pensando, intrigada:
- Que será que ele quis insinuar?
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