A fofoqueira
Lavínia era manicura domiciliar e, por força de sua profissão visitava todas as casas do bairro industrial onde residia. Todos os moradores dali trabalhavam numa grande indústria local e conheciam-se muito bem.
Lavínia tinha fama de novidadeira, todos a censuravam, mas davam corda às suas conversas. Quem não gosta de uma boa fofoca?
Lavínia estava fazendo as unhas de Rosita quando Bety, a vizinha, entrou.
- Que cara Bety! Que foi que aconteceu?
- Briguei com o Antônio.
- Não acredito! Vocês não são o casal nota 10? Aqueles que nunca brigam? Que foi que o Antônio fez?
- Ontem saiu do trabalho e, em vez de vir logo pra casa como sempre faz, me ligou dizendo que ia tomar uma cervejinha com os colegas para comemorar a promoção de um deles e já vinha embora. E sabe que horas chegou? Mais de meia noite!
A outra riu, maliciosa, em tom de brincadeira:
- hehehe! Por onde será que ele andou?
- Disse que o tempo passou sem perceber, que quando ia sair chegou mais não sei quem e resolveram tomar mais uma rodada. Achei até que ele chegou em casa meio “alto”.
- Será que você não está fazendo tempestade em copo de água? Tem homem que faz isso todas as noites
- Pode ser, mas eu já briguei logo que é para não ir se acostumando.
Depois que Bety saiu, Rosita e a manicura continuaram comentando o ocorrido.
Rosita falou da fama de homem sério do Antônio e a Lavínia destilou sua primeira gota de veneno:
- Esses é que são os piores!
Logo depois, Lavínia foi à casa da Dirce.
Entre uma lixadinha e outra lança a bomba:
- Estive a pouco com a Bety. Coitada! Está desolada! O Antonio deu para beber e passar as noites fora!
- Hi! Isto é grave! Quando começa assim, pode saber que tem mulher na história.
Claro! Foi o que pensei logo que ela contou. Quem será ela?
- A Amélia, ultimamente, tem chegado em casa muita tarde, apesar da mãe estar doente...
- Ah! Pode saber que é ela! Ela está sempre na casa deles. Faz-se de muito amiga da Bety. Sabe-se lá o que passa pela cabeça dessas “amigas”?
- A próxima freguesa é a Clara e Lavínia já tem a história da traição do Antônio montada.
- Você já soube da última? O Antônio e a Bety estão separando.
- Não acredito! Eles são nossos amigos e eu não desconfiei de nada!Estão separando por quê?
- Porque ele está de caso com a Amélia.
- Vão separar-se e ele vai casar com a outra.
- Com a Amélia? Aquela santinha que nem namorado tem?
- Não tem namorado, mas roubou o marido da melhor amiga.
- Que coisa! Bem dizem que quem vê cara não vê coração!
Clara ficou perplexa com a novidade e contou a Oscar, o marido, que era muito amigo do Antônio..
- Você sabia de alguma coisa?
- Imagine! Isto é história da Lavínia! Você não devia dar trela àquela faladeira.
- Espera ai! Você está defendendo muito o Antônio. Dizem que vocês, homens, estão sempre pondo panos quentes nas sem-vergonhices, uns dos outros. . .
- E vocês, mulheres, não têm mais o que fazer que ficar xeretando a vida alheia?
Os dois acabaram discutindo feio, por nada, e Oscar saiu de casa muito zangado.
Oscar resolveu contar a Antônio o ocorrido e este ficou furioso:
- Eu devia matar essa Lavínia! Onde já se viu inventar uma coisa dessas. A Bety e eu estamos muito bem. A Amélia é nossa amiga e se tem chegado tarde em casa é porque está fazendo horas extras na fábrica para ajudar a pagar o tratamento da mãe. Está passando por uma fase muito difícil e não merece que esse bando de mulheres desocupadas fique se metendo em sua vida, inventando coisas absurdas como esta.
Oscar se assustou:
- Deixe isso pra lá. Não vá agora fazer uma besteira por causa disso!
- É claro que não! Mas vou descobrir um jeito de me vingar dela. Ela que me aguarde!
Em casa, comentou com a Bety que ficou perplexa, pois, nem se lembrava mais do comentário que fizera com a Rosita na presença dela.
Antônio era o gerente do posto bancário anexo à fábrica e Elizeu era o caixa. Elizeu era um ótimo funcionário, bom moço, muito estimado, apesar de ser gay. Esta circunstância não interferia em nada em seu desempenho como caixa nem em seu relacionamento com os usuários, mas Lavínia implicou-se com ele e foi reclamar para o Antônio:
- Você precisa pedir a demissão do Elizeu.
- Por que isso?
- Ora, será que você não sabe do problema dele?
- Não sei não. Qual é esse problema?
- Você não está vendo que ele é gay? É inadmissível uma pessoa assim trabalhando com o público.
- Não vejo o porquê disso. Os gays também precisam trabalhar e ninguém tem nada a ver com a sua vida particular.
- Mas ele é um indecente! Molesta as pessoas! Tem atitudes indecorosas!
- Então você me traga tudo isso por escrito, bem detalhado, com duas testemunhas que eu encaminho para a Chefia do Banco e peço sua demissão.
Lavínia não teve dúvidas. Escreveu tudo o que de mais sórdido pode imaginar, forjou duas assinaturas falsas com nomes fictícios e entregou para o Antônio.
Oba! Chegou a hora de fazê-la pagar por suas irresponsabilidades!
Antonio entregou a carta ao Elizeu que moveu um processo contra ela por difamação, danos morais e falsificação.
Lavínia acabou sendo obrigada a pagar-lhe uma polpuda indenização.
Alegou que não tinha dinheiro, mas ele foi inflexível. Não voltou atrás. Ela que desse um jeito de arranjar a grana. Ou pagava ou ia presa!
E Lavínia vendeu o carro para pagar o Elizeu.
Mas não se deu por vencida. Pouco depois já estava comentando com a Wilma:
- Vendi o carro porque já estava velho. Agora vou esperar chegar um modelo novo para comprar outro.
- Tags
- contos
- fofoqueira