A fórmula da inovação e o croquete de carne
Outro dia fui assistir o filme dos Dzi Croquettes. A primeira pergunta que me fiz foi: como é que eu não conhecia os Dzi Croquettes? Bom, eles cairam na lacuna cultural da ditadura no Brasil e eu não os conheci. Cresci em uma família de esquerda, mas eles devem ter passado entre os dedos da minha infância. Fizeram um sucesso gigante entre um público bem específico. Um público nada discreto, mas restrito. Entre as tietes do grupo figuravam personagens dos mais famosos no mundo das artes e suas apresentações durante os anos que ficaram na França eram um frisson da ousadia e da arte com seriedade. Estou dizendo muito sem falar nada para deixar que o filme faça o seu papel de mostrar o grupo em sua genialidade, sua loucura e sua bagunça. Vale dizer que influenciaram boa parte da classe artística que veio em seguida.
Mas dias depois fui dar uma palestra sobre inovação. Entrei no pequeno auditório cheio de profissionais sedentos por tornarem-se inovadores e imediatamente fui invadido pela lembrança de homens vestidos de mulher, com minúsculas tangas, cantando e dançando de maneira fantástica. Comecei a rir sozinho. Enquanto olhava para aqueles profissonais, vestidos da mesma maneira, trabalhando da mesma forma em empresas que padronizam tudo o que podem em processos que reduzem a influência do indivíduo a quase zero em busca de uma estéril neutralidade, eu pensava nos Dzi Croquettes. Não sei quando foi que alguém decidiu que isto era bom, mas, pra mim, já está na hora das empresas perceberem que isto não tem nada de bom. Principalmente no mundo de hoje.
De qualquer forma comecei a palestra falando dos Dzi Croquettes. Um ícone inquestionável da inovação. Não sei o quanto poderemos ser inovadores, pois passamos a vida tentando nos encaixar. Tentamos ser a imagem e semelhança do chefe que admiramos, na esperança de sermos admirados por eles, mas a verdade é triste e inexorável: não somos nós os grandes inovadores.
Os grandes inovadores não estão na palestra sobre inovação. Eles estão na garagem de suas casas, sozinhos no quarto com seus computadores, ou junto com outros marginalizados que, aos olhos alheios, são loucos estranhos. Os inovadores são aqueles que não encaixam. São os artistas de subúrbio, os nerds e até os desavisados. Os verdadeiros inovadores estão incomodando aqueles ao seu redor, pois é isto que está no espírito deles.
Nós achamos que queremos ser inovadores, mas quando olhamos os verdadeiros inovadores, não os admiramos na verdade. Não até que seja tarde e eles já estejam fora de nosso alcance. Eu chorei de emoção com o Dzi Croquettes, mas não queria viver como eles, em uma comunidade explosiva, cheia de libido à flor da pele, confusos angustiados, alegres e tristes numa bipolaridade que virava arte. Eu queria só ser genial como eles, mas sem a falta absoluta de limites. Infelizmnte, isto não é possível, pois é este extremismo que gera os grandes inovadores. Eu queria ser um empresário de sucesso e rico como o Bill Gates, mas não queria passar a adolescência dele, inventando programas no meu quarto enquanto meus colegas saíam com as garotas para ir a festas para as quais eu não fui convidado.
O que fazer então? Desistir da inovação? Não. Não temos que desistir nunca, e escutar sobre inovação pode sim ajudar. Mas não é seguindo fórmulas que se inova, pois a inovação é avessa a fórmulas, e vice-versa.