Publicado: Segunda-feira, 5 de dezembro de 2005
A lagartixa e a felicidade humana
Há algumas coisas que sempre achei supérfluas. Por exemplo, um portão eletrônico. Qual é o problema em descer do carro, dar um giro numa chave e um empurrãozinho na porta da garagem? O bicho-homem é mesmo cheio de manias. Inventa de tudo para, cada vez mais, ampliar sua comodidade. Vai acabar criando algo que pense e sinta por ele. E daí, hem?
Bem, recentemente mudei para uma casa onde há o tal equipamento. Raciocinei: já que tenho, vou usá-lo! Agora, todas as manhãs, aqueço o motor do carro e aciono o controle. Maravilha, ele abre sozinho! Nos dias de chuva, até que gostei do conforto, apesar de apreciar um agradável banho natural, pelo menos de vez em quando. Eu já estava me acostumando com a tal mordomia quando, num belo dia, na rotina matinal, acionei o botão e ... nada! Apertei novamente e nem sinal. Deve ser a bateria, pensei comigo. Coisa nenhuma! E toca levantar o portão com os braços, logo quando eu já estava aderindo ao equipamento. Chamei um especialista. Já que tenho, não é possível ficar com ele quebrado, não é verdade?
O sujeito estava muito ocupado, tal a quantidade dessas parafernálias existentes na cidade. Quando o rapaz chegou em seu carrão, logo me passou pela mente: - Acho que ele trabalha nisso porque gosta de eletrônica, é só hobby! Tira um parafuso, tira o outro, retira-se a tampa e eis a surpresa! Uma lagartixa. É, uma lagartixa! A danada entrou na central através de um pequeno orifício por onde também passam-se os fios, tentou se alojar atrás de uma placa e encostou justo na entrada de tensão. Virou churrasco de formiga. E a história não termina aí; o melhor vem agora.
O técnico desmontou e retirou o circuito. Estava quase tudo torrado. A desgraçada provocou um curto que acabou derretendo metade dos componentes e estragando a outra parte. Mas o eletricista levou o conjunto para a oficina, trouxe um novo e o instalou no local. Vedou o orifício para evitar que o episódio se repita, testou o portão e guardou as ferramentas. Tudo certo até a chegada da conta: trezentos reais! É isso mesmo! Perguntei ao amigo: - Será que estou pagando o seguro de vida para os filhos da lagartixa? Ou será o gasto com o funeral? Talvez ela fosse de família nobre ou então um político importante e, portanto, será enterrada com as honras de um chefe de estado. Deve haver uma parte para o mensalão incluída na conta!
Num primeiro momento, após pagar a tal quantia, resolvi assassinar todas as lagartixas que encontrasse pela frente. Depois, mais calmo, voltei a normalidade e percebi que não seria uma atitude ecologicamente correta. Decidi, então, pela compra de algum animal que se alimenta das sardaniscas, deixando assim a natureza se encarregar da seleção natural. Consultei um biólogo e conclui que manter em casa uma seriema não seria tão inteligente.
Refleti melhor e conclui que o culpado é quem criou o bendito equipamento. Eu estava tão bem sem ele e foram inventar um negócio desse! Agora, como é possível viver sem o portão eletrônico? Tenho que usá-lo e ainda torcer para que nenhuma outra lagartixa, metida a técnico em eletrônica, resolva acabar com a minha felicidade. Ah, o serviço tem garantia por 90 dias! Pelo menos, serei feliz por três meses.
Bem, recentemente mudei para uma casa onde há o tal equipamento. Raciocinei: já que tenho, vou usá-lo! Agora, todas as manhãs, aqueço o motor do carro e aciono o controle. Maravilha, ele abre sozinho! Nos dias de chuva, até que gostei do conforto, apesar de apreciar um agradável banho natural, pelo menos de vez em quando. Eu já estava me acostumando com a tal mordomia quando, num belo dia, na rotina matinal, acionei o botão e ... nada! Apertei novamente e nem sinal. Deve ser a bateria, pensei comigo. Coisa nenhuma! E toca levantar o portão com os braços, logo quando eu já estava aderindo ao equipamento. Chamei um especialista. Já que tenho, não é possível ficar com ele quebrado, não é verdade?
O sujeito estava muito ocupado, tal a quantidade dessas parafernálias existentes na cidade. Quando o rapaz chegou em seu carrão, logo me passou pela mente: - Acho que ele trabalha nisso porque gosta de eletrônica, é só hobby! Tira um parafuso, tira o outro, retira-se a tampa e eis a surpresa! Uma lagartixa. É, uma lagartixa! A danada entrou na central através de um pequeno orifício por onde também passam-se os fios, tentou se alojar atrás de uma placa e encostou justo na entrada de tensão. Virou churrasco de formiga. E a história não termina aí; o melhor vem agora.
O técnico desmontou e retirou o circuito. Estava quase tudo torrado. A desgraçada provocou um curto que acabou derretendo metade dos componentes e estragando a outra parte. Mas o eletricista levou o conjunto para a oficina, trouxe um novo e o instalou no local. Vedou o orifício para evitar que o episódio se repita, testou o portão e guardou as ferramentas. Tudo certo até a chegada da conta: trezentos reais! É isso mesmo! Perguntei ao amigo: - Será que estou pagando o seguro de vida para os filhos da lagartixa? Ou será o gasto com o funeral? Talvez ela fosse de família nobre ou então um político importante e, portanto, será enterrada com as honras de um chefe de estado. Deve haver uma parte para o mensalão incluída na conta!
Num primeiro momento, após pagar a tal quantia, resolvi assassinar todas as lagartixas que encontrasse pela frente. Depois, mais calmo, voltei a normalidade e percebi que não seria uma atitude ecologicamente correta. Decidi, então, pela compra de algum animal que se alimenta das sardaniscas, deixando assim a natureza se encarregar da seleção natural. Consultei um biólogo e conclui que manter em casa uma seriema não seria tão inteligente.
Refleti melhor e conclui que o culpado é quem criou o bendito equipamento. Eu estava tão bem sem ele e foram inventar um negócio desse! Agora, como é possível viver sem o portão eletrônico? Tenho que usá-lo e ainda torcer para que nenhuma outra lagartixa, metida a técnico em eletrônica, resolva acabar com a minha felicidade. Ah, o serviço tem garantia por 90 dias! Pelo menos, serei feliz por três meses.
Comentários