A mangueira secular me disse...
Esta arvore secular conta a história de muitas vidas que por ela passaram. Ouviu confidências, testemunhou juras de amor, se molhou de lágrimas escorridas de sofrimento. Na sua majestosa imobilidade viva, acolheu a dor, o amor e fez nascer o fruto e a flor.
Por tantas árvores eu passei. Em tantas parei. Outras olhei, sentei, me vesti da sombra de suas folhas. Eu amo estar entre as árvores. Quantas histórias podemos ouvir em sua generosidade silenciosa!
Nesta mangueira anciã eu ouvi o chamado de abraçar as crianças deste lugar e plantar a semente das Danças Circulares no Centro Educacional Madre Teodora, em Itu. Sete anos se passaram desde este dia. É difícil aceitar que o presente virou passado. Não queremos viver os finais de ciclo, porque eles carregam um sentimento de finitude. Queremos o infinito, o eterno, o famoso “felizes para sempre”. Mas a vida é movimento.
Mesmo as árvores não são estáticas. Movem suas folhas, afundam suas raízes, sobem seus galhos ao céu e vivem todas as estações com plenitude. Mesmo as árvores que não saem do lugar estão sempre em movimento. Aprendo com elas.
Recentemente, revisitei minha árvore secular. Ela me disse que meu tempo neste lugar passou, que as sementes já foram plantadas e que agora eu tenho que seguir adiante. Outras crianças me abraçarão em outros espaços que me esperam. Ainda não sei onde, nem porque. Mas aceito o convite e mergulho no movimento da vida, com gratidão e nostalgia. Dentro, tempo de outono. Fora, tempo de inverno. Espero a primavera, para que tudo desabroche em outro lugar, mas sempre a partir do meu coração quente de verão. Serei por onde eu flor e tudo florescerá, seja como for.
Vou saindo de mansinho, olhando e agradecendo, sem jamais esquecer que a mangueira centenária carregada de sabedoria permanece, acolhendo, protegendo e abençoando. Um dia eu volto para visitar.