A Memória de Simplício
Discurso proferido na Câmara Municipal de Itu em 1º de março de 2013
Gostaria de iniciar agradecendo o convite que recebi para celebrar com todos o Dia Nacional do Turismo. Trata-se de uma boa iniciativa realizada na cidade que, todos sabemos, é uma Estância Turística. Nada mais justo.
Muitos já conhecem o meu estilo. Não sou de chover no molhado. Não falarei sobre números e estatísticas. Não farei um retrospecto do Turismo em Itu. Não divagarei sobre a importância do mesmo para as divisas municipais.
Falarei de uma pessoa, sem a qual talvez não estivéssemos reunidos para celebrar o Dia Nacional do Turismo. Falarei de Simplício Simplório da Simplicidade Simples, ou Francisco Flaviano de Almeida, que é o seu nome verdadeiro. Gosto mais de pessoas do que de números. Gosto mais de biografias do que de tratados. Permitam-me sujeitá-los às minhas reflexões do modo mais humano possível.
Este ano de 2013 é para mim bastante significativo. É nele que completo os meus dez anos de formatura no Curso de Jornalismo. Sempre assisti Simplício na televisão, mas foi realmente em 2003 que comecei uma relação mais forte com este ituano ilustre.
Ao término da faculdade era necessário apresentar um Trabalho de Conclusão de Curso, o temido TCC. Como aluno eu deveria escolher um tema apaixonante, caso contrário não conseguiria desenvolvê-lo. O tema precisava também ser relevante, para valer a pena ser pesquisado. Pensei que deveria ainda ser o mais inédito possível, prezando a originalidade. Por fim, raciocinei que o tema necessitava estar intimamente ligado a Itu, cidade na qual cresci e me tornei gente.
Foi quando me dei conta da figura de Simplício, aquele humorista ituano que tantos se acostumaram a ver na televisão, ora interpretando o caipira Osório, ora interpretando o moleque Rosalvo. Encontrava-se já mais recolhido dos palcos, devido à idade que avançava. Mas tinha atrás de si um verdadeiro legado, infelizmente cada vez mais esquecido pela população em geral.
Achei o meu tema. Resolvi escrever uma reportagem biográfica, contando a trajetória de Simplício. Teria muitos entrevistados, teria contextualização histórica, traria fatos nunca reunidos para publicação. E o principal: manteria viva a memória de Francisco Flaviano para as gerações futuras. Pretensão? Não: os livros servem justamente para isso.
Minha primeira atitude foi conversar com alguém da família. Simplício ainda era vivo, mas quase não recebia visitas. Fui então acolhido com muita paciência e carinho por sua esposa, a senhora Helena Maria. Tivemos vários encontros, nos quais gravei todos os seus depoimentos a respeito do marido ilustre, desde a sua infância até os seus últimos dias.
Entrevistei muitas pessoas, de vários segmentos: turismo, política, humorismo, marketing. Entrevistei contemporâneos de Simplício e especialistas na história do humor brasileiro. Mergulhei em leituras sobre esses temas e também li recortes de jornal sobre Simplício, dos anos de 1940 a 2000. Tive o prazer de conversar com grandes humoristas, do quilate de José Vasconcelos e Clayton Silva.
Após dois anos de muita pesquisa, finalmente apresentei o meu trabalho perante a banca de examinadores da faculdade. Diz a Bíblia Sagrada: “Quem entre lágrimas semeia, entre sorrisos colherá”. Dito e feito: colhi uma nota dez, com louvores, pelo feitio do livro “Simplício: Um Contador de Histórias – Vida e Obra de Francisco Flaviano de Almeida”.
No biênio em que tive Simplício ocupando meu trabalho acadêmico, fui tornando-me um pouco filho seu. Através dos depoimentos, percebi nele várias características que eu mesmo possuo até hoje. Porém, o que vale destacar entre todos os traços simplicianos é, e talvez sempre será, o seu imenso amor por Itu. Sentimento este que partilho com ele.
Ao ter conhecimento de sua trajetória, fica impossível a alguém negar que Simplício amou sua terra como poucos. Ao contrário do que às vezes sucede até hoje, não saiu de Itu praguejando contra suas imperfeições. Na primeira oportunidade que teve, encontrou uma maneira criativa, honrosa e marqueteira de colocar a “Roma Brasileira” no mapa da mídia nacional.
Veículo de comunicação de massa ainda em desenvolvimento do seu enorme potencial, a televisão foi o instrumento usado por Simplício. Em poucos anos Itu, “a cidade onde tudo é grande”, nacionalizou-se e internacionalizou-se. Os turistas surgiram aos milhares, modificando a rotina de todos nos finais de semana. Alterou, principalmente, a dinâmica do comércio e do Turismo locais. Com sua lenda do exagero, Simplício colocou sobre Itu um grande holofote, trazendo investimentos, desenvolvimento, verbas, divisas e oportunidades.
Seria Itu hoje uma Estância Turística se não fosse pela ação de Simplício? Teríamos hoje as várias modalidades turísticas em nossa cidade? Seríamos conhecidos do Oiapoque ao Chuí? Seríamos visitados por gente de literalmente todo o mundo, trazidos pelo turismo lúdico, da brincadeira saudável? Em minhas pesquisas e conversas, a resposta mais lógica é que não.
Não é só o Turismo que deve reconhecimentos a Francisco Flaviano. Toda a cidade de Itu lhe deve reverência, pois os benefícios surgidos na cidade por causa de sua lenda dos exageros afetaram todos os setores locais: da habitação aos transportes, da economia à indústria, da educação ao entretenimento.
Simplício amou sua cidade com a sinceridade do desprendimento. Nada quis para si, nem mesmo quando trabalhou na então Diretoria de Turismo. Era um abnegado em nome da terra. Interessava-lhe apenas que Itu crescesse e aparecesse. Eram outros tempos. Os fins não justificavam os meios. A gana por dinheiro não sufocava o bem que se podia fazer voluntariamente.
Nos últimos anos, várias iniciativas vêm sendo tomadas no sentido de homenagear a pessoa de Francisco Flaviano de Almeida. Todas são sempre oportunas e valiosas. Porém, permitam-me afirmar e dar ênfase que: a maior homenagem a Simplício é não deixar que morra a sua memória; é não resumir sua biografia a um semáforo ou orelhão gigantes.
Há dez anos tento publicar a biografia de Simplício, para eternizar sua história e seu legado. Não são dez meses. São dez anos. Perdi a conta do número de lideranças políticas e empresariais às quais fiz meu apelo nesse sentido. Fico decepcionado ao perceber o desinteresse geral no tema, que é tão valorizado por pesquisadores da História do Humor, do Marketing e do Turismo.
Não estou vendendo o meu peixe. Este peixe é do Simplício. Este peixe &ea