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Publicado: Segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A menina que eu fui um dia

Lembro-me ainda dos pontos de Historia, Geografia e Ciências que, no meu curso primário, era obrigada a decorar, e, na integra, as poesias que recitei no palco, nas festinhas de minha escola:

“Meu pai era um gigante, domador de feras, mas tinha um grande coração...”.
Certa vez fui escalada para fazer um discurso em uma comemoração de 7 de Setembro e o meu pai escreveu, para eu decorar, o meu “improviso”:

“São Paulo, meus senhores, era em 1822 apenas um vilarejo apertado entre os limites traçados pelo Tamanduateí e Anhangabaú, mas estava fadado a ser o palco onde se desenrolaria o mais importante episódio de nossa vida política...”.

E por ai afora passando pelo riacho Ipiranga, pela carta de D. João VI, pelo desembainhar da espada, pelo famoso grito... etc... etc...

Isto, nos idos anos trinta e qualquer coisa.

Quando terminava o meu curso primário, escrevi uns versinhos de despedida, agradecimento e tal, e minha professora quis que eu os declamasse na festa de encerramento.

Depois da apresentação, os elogios e a declaração de que eu, “A Poetisa Menina” ia declamar uma poesia de minha própria autoria, subi no palco com a “bola cheia”.

Tão cheia que estourou!

Pois imaginem que não consegui me lembrar de uma única estrofe dos malfadados versinhos!

Atrapalhei-me, esqueci tudo, não consegui improvisar nada e acabei chorando.

Não me lembro de ter passado em toda minha vida por um vexame tão grande.

Eu que decorava tudo com facilidade, que guardo até hoje tanta coisa decorada na infância, esqueci completamente a minha própria produção literária, deixei-a perder-se no abismo do esquecimento de onde nunca mais a resgatei.

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