A Morte da Controvérsia (A Vitória dos Mimizentos)
O ser humano não nasce pensando, mas aprende. Enquanto espécie nós tivemos que aprender a pensar. A Ciência já consegue delinear os momentos nos quais o cérebro humano formou-se, desenvolveu-se, evoluiu.
Cerca de 500 anos antes de Cristo, o filósofo Zenão de Eléia foi um dos que desenvolveram o conceito da dialética, um método de diálogo que tem por base a contraposição, a contradição, o embate de idéias. Como resultado desse confronto, surgem novas idéias para serem contrapostas, combatidas. Trata-se de um verdadeiro caminhar entre as idéias, algo fundamental para a filosofia ocidental e oriental.
Ao contrário do que umas cabecinhas cheias de vento pensam, foi na Idade Média, a Era das Luzes e não das “trevas” (isso de desdenhar o período é coisa de quem se deixa levar por conceitos iluministas), que a chamada Escolástica elevou a dialética a níveis jamais vistos.
Nas universidades européias (fundadas pela Igreja, ora vejam!) a dialética era matéria integrante do “Trivium”, obrigatório para quem desejasse ser levado à sério nos estudos. Os incautos, céleres em acusar a Igreja de ser contra a Ciência, ignoram o fato histórico, provado e comprovado, de que nessa época o método do pensamento crítico dominava todos os debates universitários.
Embora tenha evoluído em muitos aspectos, a humanidade em geral perdeu sua capacidade dialética. Por causa de ideologias impregnadas de relativismo e outros “ismos”, está praticamente decretada a morte de toda e qualquer controvérsia, que vem diuturnamente sendo sepultada por uma geração de mimizentos que fazem de tudo, menos pensar profundamente nos temas a que se propõem debater.
A maldição dessa geração politicamente correta é negar o controverso. Nada mais pode ser contraditório, tudo precisa ser concordante. Quem dá a cara à tapa na direção contrária é chamado de “polêmico”, “teimoso” ou “intolerante”. Essa turma alienada não percebe que, ao negar a contradição no campo das idéias, acaba por matá-las de inanição. Nenhuma idéia sobrevive sozinha.
Hoje as pessoas ou fingem ou acham que pensam. Muitas não aceitam ser contrariadas. E quando o são, não possuem argumentos. Aparecem com vitimismos, com julgamentos levianos ou idéias bem rasas e que não se sustentam. Deixam-se levar pela maré de frases feitas que as ideologias reinantes em nossos tempos espalham entre nós. São mornos e nada resilientes os nossos mimizentos. Mas sabem chorar como ninguém, rebaixando o mundo das idéias à pura chantagem sentimentalóide, como se isso fosse resolver os problemas do mundo e da sociedade.
Vivemos, portanto, numa ditadura que (por incrível que pareça!) é a pior de todas: a ditadura das idéias, que não se sentem mais confortáveis em circular livremente. Se não se encaixam no padrão mimizento reinante, devem ser extintas, para que as consciências possam permanecer tranqüilamente anestesiadas.
Felizmente há os que resistem e não são poucos. Gente com coragem, capacidade intelectual e muita, muita mesmo, paciência e caridade. Um dia a controvérsia ressuscitará e dela surgirá enfim a Verdade que libertará o pensamento humano mais uma vez.
Amém.