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Publicado: Segunda-feira, 26 de agosto de 2019

A mulher do prefeito

A mulher do prefeito
Escultura de Tiburcia no Cementerio de la Recoleta

Todos diziam por aquelas bandas que aquele era lugar para ser visitado só depois de morto e, como defunto não senta, não havia bancos, como também não tinha belos jardins e, tampouco, limpeza. Era anedota popular que, certa vez a primeira-dama, sob efeito de uma discussão acalorada em baile da cidade no qual o prefeito, herdeiro político, cobiçou de soslaio a rainha do carnaval, desafiou-o anunciando no saguão: "Não vou pro cemitério do seu pai nem morta!". Pois, acometida de doença grave que tomou a todos de surpresa, ela levantou naquele dia mais disposta, preparou o café com bastante açúcar para o marido, sentou-se na varanda e ficou esperando a morte chegar. Leu quatro páginas de Júlio Verne, reclinou a cabeça para trás e suspirou profundamente. Quando a última porção de oxigênio lhe fugiu, o livro se desprendeu de suas mãos e tocou o assoalho fazendo um barulho frouxo que sentenciou o óbito. Em sua lápide ia escrito: "Aqui deveria descansar em paz uma amada esposa e admirada mãe".

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