A que ponto chegamos
Educados dentro do Cristianismo, aprendemos os valores que temos de respeitar e qual o nosso posicionamento diante do próximo, no decurso da vida. Acontece que, no estado laico, proliferam inúmeros segmentos, religiosos ou não, que possuem valores próprios, diferentes do Cristianismo. Como proceder no convívio diário, eventualmente quando surgem divergências? Aí se encontram as dificuldades e é aí que temos de nos posicionar. Antigamente, bem antigamente (antes de 1950), não era incomum encontrar os dizeres “fora da Igreja não há salvação”. Nos dias atuais tais dizeres são considerados absolutamente impróprios, dado o avanço do ecumenismo e as reflexões que, todavia, não dilucidam o problema de forma matemática.
O que estou pretendendo escrever é relatar que nos encontramos absolutamente despreparados para a guerra das idéias ou convicções. O momento atual exige esforço muito grande para não se revelar as próprias convicções, o próprio posicionamento íntimo . Isso porque, se o fizermos, com certeza entraremos em atrito, o que é absolutamente indesejável para um conviver pacífico. Dentro dessa sistemática poderemos conviver felizes muitos anos, todos acorrentando de maneira eficiente, as respectivas feras domesticadas que guardam no próprio interior. Transformamo-nos na dupla personagem vivida pelo Comendador Ventura, naqueles saudosos quadrinhos dos anos 50 do século passado, em que o comendador por fora elogiava e por dentro xingava. Não sei por quanto tempo andaremos incólumes por esse terreno minado. Caminhamos amordaçados, para não criar problemas para os próprios companheiros.
Explico-me melhor: em homilia rotineira ouvi pregador dizer que escritores contemporâneos, incluídos aí, roteiristas em geral, retratam o momento histórico vivido pela sociedade. Não acrescentou, porém, que na maioria dos casos não só deturpam a realidade, mas promovem a aceitação ou a “normalização” do mal (casamento de homossexuais, por exemplo), o que evidentemente não pode ser aceito pelo cristão. Relações sexuais fora do casamento, recasamento após divórcios e separações, aborto, eutanásia, aproveitamento dos embriões para fins científicos, etc., etc. são temas candentes imersos em divergências que podem ser discutidos, acatando-se porém e sempre a palavra final da Igreja: Roma locuta, quaestio finita.
Chegamos a um ponto, portanto, em que precisaríamos, com mais capricho, fazer a interpretação possível daquela passagem evangélica que esclarece que o espírito precisa ser quente ou frio, pois o morno será expelido. Sem querer relaciono este momento que estamos atravessando com muros. Lembro-me que em 1987 foi destruído o célebre muro de Berlim e que, há pouco, Israel tentava construir outro, separando cidades palestinas dos judeus. E aqui, pelas nossas bandas, há de se reconhecer que muitos se interessam em subir em muros apenas para espiar os espetáculos circenses...