A representação visual das monções
Em Porto Feliz, a poucos metros das águas do Tietê um elegante conjunto escultural rememora o movimento das monções do século XVIII. Monção era o nome dado a cada uma das expedições de comércio que partiam do porto de Araritaguaba, naquela época pertencente à vila de Itu, e que tinham como destino as povoações das minas de ouro de Cuiabá. No monumento de Porto Feliz destaca-se a coluna em mármore rosa, arrematada por uma esfera armilar em ferro batido. A base é formada por uma êxedra, isto é, uma espécie de banco de pedra semicircular com encosto alto. A face interna da seção que serve de encosto apresenta três baixos relevos em bronze. Os baixos relevos reproduzem três famosas representações visuais das monções: A partida da monção , quadro pintado por José Ferraz de Almeida Júnior, A benção das canoas , desenho de Hercules Florence datado de 1826 e A partida de Porto Feliz , desenho de Adriano Taunay também datado de 1826. Das três obras a mais conhecida é o quadro do pintor ituano Almeida Júnior, produzido em 1897 com base nos desenhos de Hercules Florence e Adriano Taunay. A partida da monção está exposta no Museu Paulista da Universidade de São Paulo, popularmente conhecido como Museu do Ipiranga.
O rei D. Manuel I, o Venturoso, tomou por bandeira pessoal uma esfera armilar de ouro em campo esquartelado em aspa, de branco e vermelho. D. Manuel I teve seu nome ligado à mais gloriosa fase de Portugal, na qual os navegadores fizeram as descobertas que encaminhariam a Europa à modernidade. A esfera armilar figurou na bandeira branca do principado do Brasil, criado em 1647. D. João VI escolheu o mesmo símbolo em 1816, uma esfera armilar de ouro em campo azul, para o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Depois da Independência D. Pedro I respeitou a tradição e manteve o símbolo, dando por armas ao Brasil uma esfera armilar em ouro, em campo verde, atravessada por uma cruz da Ordem de Cristo e circundada por uma orla azul com 19 estrelas de prata. Esse foi o brasão de armas do Brasil até a Proclamação da República.
Os idealizadores do monumento de Porto Feliz que rememora as monções colocaram a esfera armilar no topo da coluna para representar um elo entre os descobrimentos portugueses do século XV e as grandes expedições fluviais que, três centúrias depois, partiam de Porto Feliz com a missão de explorar e povoar a região fronteiriça às terras dominadas pelos espanhóis. O monumento foi encomendado por Cândido Mota, Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura. A sua inauguração deu-se a 26 de abril de 1920. A festa de inauguração contou com a presença de Altino Arantes, presidente do Estado de São Paulo [naquela época o governador era chamado de Presidente de Estado], e de um grupo de jornalistas e historiadores. Afonso de Escragnolle Taunay, que além de historiador era o diretor do Museu Paulista — popularmente chamado de Museu do Ipiranga, fez o discurso oficial da solenidade. Ele dedicou a sua fala À Glória das Monções .
O autor do monumento foi o escultor italiano Amedeo Zani. Com uma história de vida parecida a de tantos outros imigrantes, Zani chegou ao Brasil em 1887. Em São Paulo fez estágio no escritório do arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi, que então construía o edifício que a partir de 1895 abrigaria o Museu Paulista. Depois freqüentou o ateliê do escultor Rodolpho Bernardelli, no Rio de Janeiro. Viajou para a Europa, passou por Paris, morou um tempo na Itália e aos 27 anos voltou ao Brasil. Na capital paulista exerceu o magistério no notável Liceu de Artes e Ofícios a convite do engenheiro-arquiteto Ramos de Azevedo. Amedeo Zani também é o autor de Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo , conjunto comemorativo à fundação da cidade localizado no centro do Pátio de Colégio. Neste monumento, uma elegante coluna é encimada por uma emblemática figura feminina.