A tempestade
Numa tarde de verão, violento temporal desabou sobre a cidade, com ventos de grande intensidade, granizo abundante e raios assustadores.
Vitalina, a empregada, colocou um ovo no peitoril da janela para “Santa Clara fazer clarear”, depois pegou o terço e atropelou trechos do Pai Nosso e do Credo entremeado com apelos a Santa Bárbara e São Jerônimo.
Bianca também estava assustada, mas, para tranqüilizar Tati, a filha, levou-a até a vidraça para ver o espetáculo que, se não fosse aterrador, seria muito bonito, do vento rugindo, levando consigo uma revoada de pedras de gelo enquanto raios luminosos cortavam os ares e desciam perigosamente à terra com grande estrondo.
Bianca procurava acalmar a Tati:
- Hoje vai haver uma festa no Céu e o Senhor mandou alguns anjos lavarem tudo para ficar bem bonito. Mas, os anjos são meio desajeitados, estão esparramando água por todos os lados.
Eles também degelaram a geladeira e, olhe só, quanto gelo eles estão derrubando aqui na Terra! Que anjinhos estabanados, você não acha?
A Tati não se acalmava:
- Mas a água esta alagando a rua, entrando nas casas.
- Não tem importância. Logo a ela escoa e tudo volta ao normal.
- O vento derrubou a arvore!
- Não foi nada, é que lá no Céu eles têm um aspirador de pó muito possante e algumas vezes as arvores não agüentam sua força e caem.
Um raio caiu muito perto e o prédio todo pareceu balançar com o impacto.
- Olhe que lindo! A festa está começando, já começaram a soltar os fogos!
Finalmente, a tempestade passou, tudo se acalmou e no céu de um suave azul, apareceu um lindo arco-íris.
- Olhe lá, Tati! O arco-íris é o sorriso de Deus! Ele está sorrindo para nós!
- Eu acho que ele está é caçoando de você.
- Caçoando de mim. Por quê?
- Porque você acredita em cada bobagem.