Publicado: Sexta-feira, 19 de maio de 2006
A tempestade e a melancolia
No final daquela tarde o firmamento já se mostrava intensamente cinzento; as densas nuvens que povoavam o céu anunciavam chuva para as próximas horas. A queda de muita água era iminente e, típico desses momentos que anunciam tempestades, a atmosfera tornava o cenário bem triste.
Após um banho quente e algumas frutas para saciar a fome, coloquei-me a ler um livro de crônicas bem divertidas que ganhei de um amigo escritor. Umas duas horas mais e o céu já estava negro com alguns ruídos intermitentes denunciando a ira dos deuses celestes. Pela porta aberta varanda em frente ao quarto, eu conseguia perceber as periódicas descargas prateadas que cortavam o negro manto do firmamento. Os ruídos e os clarões foram se intensificando.
Logo mais, a chuva começou a cair fina, gostosa de observar do balcão da varanda. Levantei-me e fiquei ali observando a água nutrindo a terra, as árvores e as flores que ornamentavam as casas vizinhas. Permaneci na varanda, quase estático, a refletir sobre os mais diversos temas, nenhum deles de maiores compromissos.
Encantou-me o silêncio da noite. Com a tempestade que se aproximava, pareceu-me que todos se recolheram para um abrigo seguro; ninguém queria se aventurar a sair da residência. Não havia ruídos de carro nem pessoas caminhando pelas ruas do condomínio; magicamente, a vida lá fora parara por algumas horas. Pensei em um ou outro amigo ou colega, um ou outro acontecimento do dia. Foram aqueles pensamentos que vão e que vêm muito rapidamente, sem que tenhamos controle sobre eles. Do mesmo modo que chegam, vão se embora sem que tenhamos concluído qualquer coisa sobre o tema.
Voltei depois para dentro e coloquei-me a ler mais algumas páginas do livro. Quinze ou vinte minutos depois e eu já não conseguia mais me concentrar e, logo mais, peguei no sono. O cansaço do dia havia me vencido muito facilmente naquela noite.
Três e tanto da manhã, acordei pela ação de um vento frio. Eu havia me esquecido de fechar a porta que dava para a varanda do quarto. Levantei-me para fechá-la e logo voltar à cama. Agora, a água caia torrencialmente; choravam todos os santos, todos os anjos e todos os demais habitantes do andar superior. Caia muita água e a densa cortina líquida acabou por me hipnotizar. Fiquei admirando a catarse da atmosfera.
Perdi o sono e permaneci ali no balcão a apreciar a choradeira extrema do mundo. Sem que eu percebesse, a tristeza que antes era da natureza, lentamente foi tomando conta do meu ser. Em alguns poucos minutos ela já me dominava. E com a melancolia, pela mente começaram a desfilar algumas coisas do mundo que eu gostaria de mudar, aquelas sobre as quais gostaria de ter poder para alterá-las. Também por esse cinema dos pensamentos fui lembrando de um e de outro que não vejo mais, dos amigos que fiz pela vida e que desapareceram, os amores de outros tempos que se foram ou que permanecem adormecidos. Permaneci assim por mais algumas horas, quase até o clarear o céu. A chuva foi perdendo a intensidade até que se transformou numa fina garoa. As nuvens insistiam em ocupar espaço no firmamento, fazendo também com que minha melancolia acabasse por se estender por todo o dia que agora amanhecia.
Após um banho quente e algumas frutas para saciar a fome, coloquei-me a ler um livro de crônicas bem divertidas que ganhei de um amigo escritor. Umas duas horas mais e o céu já estava negro com alguns ruídos intermitentes denunciando a ira dos deuses celestes. Pela porta aberta varanda em frente ao quarto, eu conseguia perceber as periódicas descargas prateadas que cortavam o negro manto do firmamento. Os ruídos e os clarões foram se intensificando.
Logo mais, a chuva começou a cair fina, gostosa de observar do balcão da varanda. Levantei-me e fiquei ali observando a água nutrindo a terra, as árvores e as flores que ornamentavam as casas vizinhas. Permaneci na varanda, quase estático, a refletir sobre os mais diversos temas, nenhum deles de maiores compromissos.
Encantou-me o silêncio da noite. Com a tempestade que se aproximava, pareceu-me que todos se recolheram para um abrigo seguro; ninguém queria se aventurar a sair da residência. Não havia ruídos de carro nem pessoas caminhando pelas ruas do condomínio; magicamente, a vida lá fora parara por algumas horas. Pensei em um ou outro amigo ou colega, um ou outro acontecimento do dia. Foram aqueles pensamentos que vão e que vêm muito rapidamente, sem que tenhamos controle sobre eles. Do mesmo modo que chegam, vão se embora sem que tenhamos concluído qualquer coisa sobre o tema.
Voltei depois para dentro e coloquei-me a ler mais algumas páginas do livro. Quinze ou vinte minutos depois e eu já não conseguia mais me concentrar e, logo mais, peguei no sono. O cansaço do dia havia me vencido muito facilmente naquela noite.
Três e tanto da manhã, acordei pela ação de um vento frio. Eu havia me esquecido de fechar a porta que dava para a varanda do quarto. Levantei-me para fechá-la e logo voltar à cama. Agora, a água caia torrencialmente; choravam todos os santos, todos os anjos e todos os demais habitantes do andar superior. Caia muita água e a densa cortina líquida acabou por me hipnotizar. Fiquei admirando a catarse da atmosfera.
Perdi o sono e permaneci ali no balcão a apreciar a choradeira extrema do mundo. Sem que eu percebesse, a tristeza que antes era da natureza, lentamente foi tomando conta do meu ser. Em alguns poucos minutos ela já me dominava. E com a melancolia, pela mente começaram a desfilar algumas coisas do mundo que eu gostaria de mudar, aquelas sobre as quais gostaria de ter poder para alterá-las. Também por esse cinema dos pensamentos fui lembrando de um e de outro que não vejo mais, dos amigos que fiz pela vida e que desapareceram, os amores de outros tempos que se foram ou que permanecem adormecidos. Permaneci assim por mais algumas horas, quase até o clarear o céu. A chuva foi perdendo a intensidade até que se transformou numa fina garoa. As nuvens insistiam em ocupar espaço no firmamento, fazendo também com que minha melancolia acabasse por se estender por todo o dia que agora amanhecia.
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