Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 25 de abril de 2005

A vida espiritual necessita de alimento e de exercícios!

“Só com a presença salvadora de Cristo poderemos superar as freqüentes quedas, vacilações e dificuldades da nossa caminhada.”

A saúde é um bem fundamental, um tesouro, verdadeira graça de Deus. Ter uma boa saúde deve ser um dos nossos propósitos mais fortes. Para tanto, invariavelmente, precisamos contar com uma alimentação saudável e equilibrada, complementada por uma boa dose de exercícios físicos.
Somos corpo e alma. Temos uma vida espiritual cuja saúde, à semelhança do nosso físico, merece todo cuidado. Da harmonia entre o corpo e a alma depende o nosso bem-estar, nosso bom relacionamento, nossa felicidade enfim. A sabedoria popular garante que: “quando a cabeça não ajuda o corpo sofre”; pior, sofrem o nosso e o daqueles com os quais convivemos.

Quando dói o nosso lado espiritual quase sempre dá muito mais trabalho, por isso, mais que em relação ao nosso físico, nesse caso “prevenir é melhor que remediar”. Nossa saúde espiritual exige atenção e cuidado: manutenção constante porque sofre desgastes, aliás, como tudo na vida. Precisa de alimento que possa repor-lhes esses desgastes e as energias necessárias para se manter em bom estado, para que haja força e coragem diante das dificuldades, dos problemas do nosso dia-a-dia.
Caminhamos à luz da fé e da esperança, alimentados pelo Pão da Palavra e da Eucaristia: o próprio Cristo se fez nosso alimento; ofertou seu próprio corpo e sangue para garantir-nos o sustento necessário para que tenhamos vida em abundância, vida de qualidade. Por Amor quis permanecer conosco no Pão sacramental, disponível para cada um e para todos os homens, sempre, até o fim dos tempos. “Isto é o meu corpo...isto é o meu sangue...”: Mistério de fé, a mesma fé capaz de “entender” que “todo aquele que come deste pão viverá eternamente”. Verdadeiramente comida, verdadeiramente bebida, únicas capazes de alimentar nossa alma e levá-la sã e salva às glórias do céu.

Mas não é só “comer, beber e dormir”. Além do alimento sagrado, nossa vida espiritual necessita de uma boa dose de “exercícios”.
Queremos uma vida espiritual voltada para nosso bem, nossa felicidade, nossa santidade. Queremos criar comunhão de vida: com Deus e com nossos irmãos. Precisamos de coragem e força para as necessárias transformações de nossa vida, o que depende do nosso empenho.

A Igreja propõe exercícios para nossa vida espiritual, para nossa vida de fé, para nossa vida plena. Três deles são especialmente importantes: jejum, esmola e oração.

Jejum
: Ajuda-nos a ver que a vida é cheia de limites e que estes são necessários e até desejados para que vivamos melhor.
O jejum está voltado para o nosso auto-domínio. Se consigo comer apenas uma refeição, quando a vontade é de comer duas ou mais, se deixo de comer carne e passo muito bem, garantido está que minha vontade aceita controle e limites e minha vida pode ser melhor, mais equilibrada em diversos aspectos.
O jejum e as penitências nos fortalecem nos combates da vida pessoal. É uma forma de treinar a renúncia...
O alimento e a bebida simbolizam a libertação de tudo que pode escravizar: bens materiais, opiniões, idéias, apegos...

É necessário desapegar-se, alargar-se, praticar o jejum - não somente o jejum de nossa alimentação -, mas da nossa gula, do consumismo; o jejum da língua, das mentiras, das calúnias, das fofocas, das difamações; o jejum dos nossos passos, para saber melhor onde “andar”; o jejum da preguiça, da raiva, da inveja e do ciúme; o jejum da televisão, das novelas e dos programas que atentam contra a moral e os bons costumes; o jejum do materialismo e do egoísmo; o jejum da censura, da implicância e da intolerância.

Esmola:
Chama a nossa atenção para o outro; é símbolo da nossa abertura às necessidades dos irmãos. Servir. Partilhar. Igualmente, requer treino e progressividade.
Dar esmola é dar de graça, dar de si mesmo, servir com generosidade e desprendimento: bens materiais, o tempo, o interesse, as qualidades, o serviço, o acolhimento, a aceitação...
O bem do outro faz bem para mim.
Não é apenas dar dinheiro, roupa, um prato de comida. É fazer-se doação aos irmãos no serviço fraterno, na participação em movimentos e projetos, ajudar a pessoa a desenvolver suas capacidades.

Oração
: Abre-nos para Deus e nos coloca em sintonia com Ele. Esta forma simples e agradável de dialogar com Deus começa com orações prontas e evolui para palavras próprias tiradas de nosso dia-a-dia, de nossas alegrias, nossas dificuldades, nossas vitórias e nossas derrotas. Agradecendo, louvando, pedindo, sempre contamos com Ele e aprendemos a colocar n'Ele nossa confiança: “Feliz de quem n'Ele encontra seu refúgio, sua morada.” Através da oração partilhamos nossa vida com Deus, permitindo que faça parte dos nossos projetos e de nossas decisões...
Na oração, falamos com Deus. Por isso é a expressão máxima da conversão. Abertura para Deus, para o próximo e para o mundo. Santo Agostinho nos lembra: “O homem torna-se maior quando se ajoelha.” Assim a oração organiza a vida humana e a torna melhor.

Resumindo: Esses exercícios são três remédios contra a doença da solidão moderna, fruto de uma sociedade egoísta e individualista.
O jejum aponta para o meu “eu”, para meu auto-domínio; treina o meu desprendimento e minha liberdade perante os bens terrenos.
A esmola me faz ver o próximo, aquele que necessita de minha atenção e compaixão.
A oração me liga a Deus, me leva a Ele; coloca Deus em minha vida.

De bem comigo, de bem com o próximo, de bem com Deus, chegamos à paz, à saúde e à felicidade, componentes do nosso paraíso terrestre, do céu aqui e agora, sonhado e criado por Deus para ser construído por nós. É só viver...!

Contar com Deus e fazer a nossa parte, eis a receita para a vida. Lembramos aqui as palavras de Lord Ashley, no começo de um dia atribulado: “Senhor, tu sabes como vou estar ocupado hoje. Se eu me esquecer de ti, não te esqueças de mim.”

Comentários