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Publicado: Quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

A Vida Nossa de Cada Dia

A Vida Nossa de Cada Dia
Vejo o mundo desunido. Nada de solidariedade...
Vejo o mundo desunido. Nada de solidariedade, união, amizade. Todos completamente insatisfeitos (naturalmente a grande maioria) procurando alguma coisa para se agarrar. Noto que os parentes nem se visitam mais, nem há mais sequer trocas de informações e notícias a respeito, porque qualquer comentário que se faça irá ferir suscetibilidades ou deixar alguns dos conversadores aborrecidos ou magoados. Assim o conclamado diálogo deixa de existir. Todos se fecham em indesejável mutismo.
 
A vida se torna um contato direto com o mundo e com as pessoas, tudo através de poderoso e crescente intermediário que se chama mídia. A mídia torna-se o mais importante elemento do mundo moderno, acreditando eu que todos possam viver sem parentes e amigos, desde que a mídia esteja sempre ao seu lado. Com a televisão ligada, assistindo os noticiários, as novelas, programas esportivos, de auditórios etc. etc. ou lendo jornais e revistas preferidos, conversar com alguém significa absoluta perda de tempo. Então, o meu papo com conhecidos e amigos, que muitas vezes evitam se encontrar, se resume no “como vai”, “está quente” “está frio”, “vai chover”, “chove demais”, “não convocaram o Ronaldo”, “prenderam os seqüestradores” e assim por diante.
 
Verdade que as pessoas em plena atividade, com compromissos e trabalhos bem determinados podem se comunicar mais e assim entenderem exagerados o enfoque que fazemos dessa dissonância e incomunicabilidade. Todavia, hão de convir que se evitam diálogos e conversas para não se perder tempo e talvez subestimem o semelhante que se encontra tranqüilo, acomodado, que só não se senta na praça do jardim, por se sentir envergonhado da ociosidade, momentânea ou definitiva. Assim a vida vai se escoando aos poucos, enquanto as pessoas vão se enfarando dos contatos com a mídia, mas não encontrando meios de se comunicarem uns com os outros. Parece que há um temor recíproco de aproximação. Aí entra a competição, a concorrência, a dor de cotovelo, as vaidades ou aquela velha história de velho, doente e pobre.
 
De outro lado, porém, cerca de dez ou quinze por cento da população, se encontra feliz da vida. Não se preocupa com nada, a não ser com a quantia de dólares que vai levar para a próxima viagem à Nova York ou se , quando forem à Europa em julho, será vantajoso alugar um carro em cada país ou se não haverá necessidade disso, pois terão acesso livre nas fronteiras. Nas atividades diárias se comunicam com os bancos e consultores financeiros para terem exatas informações sobre as melhores aplicações do dinheiro: investimento em fundos de ações, em cdbs de renda fixa pós ou pré-fixadas, compra de dólares etc.
 
Estão sempre com um largo sorriso, alegres e otimistas, confortando o próximo com expressões como estas dos “mui amigos”: “isso não é problema”, “ você, inteligente como é , encontrará a solução adequada”, “ não pode parar de trabalhar, não pode desanimar”. Esses são alguns aspectos da vida nossa de cada dia.
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