A Vida Nossa de Cada Dia (Seis Anos Depois)
Vejo o mundo desunido. Nada de solidariedade, união, amizade. Todos completamente insatisfeitos (naturalmente a grande maioria) procurando alguma coisa para se agarrar. Noto que os parentes nem se visitam mais, nem há mais sequer trocas de informações e notícias a respeito, porque qualquer comentário que se faça irá ferir suscetibilidades ou deixar alguns dos conversadores aborrecidos ou magoados. Assim o conclamado diálogo deixa de existir. Todos se fecham em indesejável mutismo. Isso escrevi em outubro de 2002.
Hoje, nesse ponto, percebo alguma melhora. Talvez porque todos ficaram seis anos mais velhos e a idade começa a pesar. Todos nos encontramos saciados ao nojo com os noticiários da mídia, cada vez mais realista e de sordidez repugnante. As novelas, em sua representatividade baseada na vida real, continuam a dar todos os maus exemplos (desde os prolongados beijos de boca), até as diversas anormalidades da vida sexual, nos demais temas com insinuantes formas de violência física e psíquica.
Verdade que as pessoas em plena atividade, com compromissos e trabalhos bem determinados podem se comunicar mais e assim entenderem exagerados o enfoque que fizemos e fazemos dessa dissonância e incomunicabilidade. Todavia, hão de convir que ainda se evitam diálogos e conversas para não se perder muito tempo e talvez subestimem o semelhante que se encontra tranqüilo, acomodado, que só não se senta na praça do jardim, porque estes perderam o encanto e a serenidade dos tempos passados, em que a animalização do homem não chegara a ser tão corriqueira em sua violência.
Assim, manifestara em 2006: “a vida vai se escoando aos poucos, enquanto as pessoas vão se enfarando dos contatos com a mídia, mas não encontrando meios de se comunicarem uns com os outros. Parece que há um temor recíproco de aproximação. Aí entra a competição, a concorrência, a dor de cotovelo, as vaidades ou aquela velha história de velho, doente e pobre”.
Dizia ainda há seis anos: “de outro lado, porém, cerca de dez ou quinze por cento da população, se encontra feliz da vida. Não se preocupa com nada, a não ser com a quantia de dólares que vai levar para a próxima viagem à Nova York ou se , quando forem à Europa em julho, será vantajoso alugar um carro em cada país ou se não haverá necessidade disso, pois terão acesso livre nas fronteiras.
Nas atividades diárias se comunicam com os bancos e consultores financeiros para terem exatas informações sobre as melhores aplicações do dinheiro: investimento em fundos de ações, em CDBS de renda fixa pós ou pré-fixadas, compra de dólares etc. Estão sempre com um largo sorriso, alegres e otimistas, confortando o próximo com expressões como estas dos “mui amigos”: “isso não é problema”, “ você, inteligente como é , encontrará a solução adequada”, “ não pode parar de trabalhar, não pode desanimar”.
Hoje, nesse aspecto houve certa mudança com os vexames passados por brasileiros no exterior, especialmente na Espanha, de maneira que as viagens turísticas caíram bastante e os objetivos de aplicação de numerário tomam também novos rumos. Tudo vai mudando diariamente. Temos de nos adaptarmos também ou apenas ficar clamando no deserto...