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Publicado: Terça-feira, 4 de novembro de 2008

A Vila Operária Brasital e seus Moradores

1- Industrialização de Salto: Considerações Gerais
Bandeira júnior refere-se em sua obra a três fábricas de tecidos construídas na cidade de Salto,SP antes de 1900. A implantação destas fábricas, ainda no século XIX, foi facilitada pela inauguração em 1873, da estrada de ferro ituana e determinada pela existência de uma queda d’água no rio Tietê, que ofereceu a energia necessária para o seu funcionamento (BANDEIRA JR, 190, p. 101-172); CASTELLARI, 1971)

As mais antigas são as fábricas a vapor de fiação e tecelagem conhecidas como Júpiter e Fortuna, construídas respectivamente em 1875 e 1880/82, trabalharam até 1895. Em 1904, foram adquiridas pela Societá Ítalo-Americana, a qual posteriormente adquiriu também a tecelagem construída pelo engenheiro Enrico Dall’Acqua (São Roque) e a fábrica de Papel Paulista (Salto). Em 1919 foi constituída a Brasital S/A, “resultante da fusão das empresas Societá per L’Importazione Ítalo-Americana e Belli & Cia, cujo capital foi formado por acionistas brasileiros e italianos” (BOMBANA, 1976, p. 6-7).

A FÁBRICA Italo-Americana, bem como aquelas da qual ela se originou, exerceram uma influencia decisiva na constituição da cidade de Salto, determinando e orientando seu crescimento. Nesta localidade, “a evolução urbana foi determinada diretamente pela atividade industrial”(FOOT, 1982).


2- O século XX e a construção da Vila Operária Brasital

O projeto para a construção da primeira vila operária em Salto, data de 1900. Segundo Bandeira Júnior, esta vila era “composta de 30 casas para operários e construídas com todas as exigências higiênicas” (BANDEIRA JÚNIOR, 1901, p. 154). Entretanto, esta Vila Operária possivelmente tenha existido apenas no nível de projeto, pois como podemos observar através das Atas da Câmara Municipal de salto, principalmente a de 1-6-1903, a construção daquelas casas foi embargada. Esta suposição é reforçada por alguns antigos moradores da cidade os quais, não “se lembram ou nunca ouviram falar em tais casas” referidas por aquele autor.

Assim, a primeira vila operária efetivamente construída na cidade foi em 1901, pela Ítalo Americana, e era composta por 36 casas . A Vila Operária Brasital, destacado neste artigo, foi construída entre os anos de 1920-1925, pela indústria sucessora da ítalo-Americana, a Brasital S/A, e daí o nome de Vila Operária Brasital, a qual possuía 240 casas entre elas, pequenas, médias e grandes.

Esta vila, diferentemente do que ocorreu com as outras vilas operárias da Capital (SP) como a Vila Maria Zélia, localizada no Belenzinho, SP, não foi construída junto á fábrica, que devido a sua antiguidade estava localizada no “centro da cidade”. Na época da sua construção, a cidade de Salto já possuía rede de água e esgotos, sistemas de ruas, como também iluminação pública. Assim, toda a infra-estrutura necessária para a sua implantação já estava construída, cabendo a fábrica construtora apenas abrir algumas travessas de ruas para ligá-las definitivamente a cidade já existente, proporcionando a ampliação do limite urbano para além do centro e atrás do céu (denominação dada a rua em que se iniciou a construção daquela vila).

O sistema de ruas já existentes facilitava o acesso dos moradores ao local de trabalho e o apito da fábrica, que era ouvido e ainda é naquela cidade, acionado minutos antes de se iniciar o trabalho, permitia também uma maior aproximação entre o local de trabalho e a moradia. Esta aproximação não correspondia evidentemente a geografia, e sim marcava o intervalo de tempo em que o operário deveria sair de sua casa e chegar ao trabalho: uma espécie de aviso de que a hora de iniciar o trabalho estava se aproximando.

O modo como a vila operária está inserida na localidade, sua aparência e arquitetura, possibilitava aos habitantes da cidade a fazerem uma identificação daquele conjunto de casas e dos seus moradores , relacionando-os à fábrica construtora, já que somente os seus operários é que tinham acesso aquelas casas. Além da vila operária, a Brasital S/A construiu creche, escolas, açougue, cooperativa, etc.

Nas décadas iniciais da industrialização, Salto não apresentava bairros onde a população trabalhadora se concentrasse ou, inversamente, aqueles onde residissem ou, inversamente, aqueles onde residissem as pessoas mais ricas. Naquele primeiro momento a quase totalidade da sua população ocupava, de forma densa, um pequeno espaço onde moravam: operários, comerciantes e patrões.

3- Os moradores da Vila Brasital: mães, filhas, viúvas e solteiras.

Através dos depoimentos e histórias de vida destes moradores foi possível conhecer o percurso feito pelas famílias operárias, a maioria delas formadas por descendentes de italianos, até o seu efetivo estabelecimento nas casas daquela vila. Estes depoimentos ofereceram também, subsídios bastante significativos a respeito das condições em que as famílias tornaram-se moradores da vila, o seu cotidiano e a conseqüente responsabilidade tomada pelas filhas daquelas casas.

3.1 - A obtenção da casa
O trecho da entrevista que citamos a seguir de Dona Ivone, e sua mãe DonaAna, ilustra bem a condição em que se deu a migração para Salto, e, é excepcional apenas pela riqueza de detalhes que contém:

“eles vieram moço [os pais]. Meu pai serviu o governo e foi para Piracicaba. Casaram-se em Piracicaba, meu pai com minha mãe, mas vieram os dois da Itália. Minha mãe de Napoli e ele de Veneza.

De Piracicaba viemos de mudança, viemos trabalhar, viemos chamados não. Nós ficamos ainda morando com uma família que a Dita......Cê lembra! Onde era a cadeia velha? Aqui na rua nove! Lá vizinho que nós viemos morar junto com uma família. Não tinha casa naquele tempo. E de lá que nós passamos a morar aqui [referindo-se a Vila Operária Brasital] ...eu consegui a casa, porque meu pai trabalhava no Donalizio, na uva. Ajudava a fazer vinho. Aí, eu fiz o pedido, depois de uns dias veio a chave desta casa. Eu me lembro bem, eu tinha 11 anos, trabalhei aposentei em sessenta [1960]. E trabalhei qua
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