Publicado: Quarta-feira, 1 de agosto de 2007
Ação e Oração
"Eles perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações." (Atos 2, 42).
“Senhor tu sabes como vou estar ocupado hoje. Se eu me esquecer de ti, não te esqueças de mim.” (Lord Ashley)
Sem dúvida, é o ser humano a obra-prima da criação. Deus investiu tudo no homem, preparando um mundo maravilhoso para que nele pudesse viver, desenvolver-se e ser feliz. Dotou-nos de grande capacidade, mas igualmente nos cobra grande responsabilidade pelo que devemos e podemos fazer com o que temos e somos.
Apesar de tudo, somos limitados e o grande desafio que enfrentamos é exatamente a aceitação dessas limitações. Encantados com as nossas grandezas e alimentados com o orgulho e a vaidade, acabamos achando que podemos tudo; queremos fazer tudo, ser tudo, ter tudo... Só que invariavelmente nos tornamos insaciáveis, com desejos ilimitados e, claro, infelizes. Esquecemos os outros, esquecemos Deus e acabamos solitários e impotentes diante de tantos desafios.
Sem dúvida, grande parte dos problemas que afligem a humanidade concentra-se nos relacionamentos. O mundo experimenta conflitos e divergências de toda ordem devido a nossas limitações e fraquezas; ainda não aprendemos a ver o outro com olhos mais cristãos o que certamente traria grandes progressos rumo a uma convivência pacífica.
É evidente que não só o nosso relacionamento com os outros está mau, mas, sobretudo o nosso relacionamento com Deus. Falta oração na vida dos homens de hoje. Deus está sendo esquecido, substituído. É preciso construir “pontes” que liguem Céu e terra, Deus e o homem. A oração é diálogo; específica do ser humano traduz nosso esforço de uma comunicação consciente com Deus. Reflete a demonstração concreta da amizade e do amor que dedicamos a Ele.
Através da oração identificamos nosso modo de viver, nossa vontade com a Vontade de Deus e ganhamos muito com isso, já que a Sua Vontade é exatamente que sejamos felizes.
Esse diálogo constante e freqüente com Deus vai moldando nossa vida, tornando-a mais segura, mais firme e reta.
Motivos para orar não faltam. Oramos para louvar nosso Deus, Criador de tantas maravilhas. Reza o salmista: “Quão numerosas, ó Senhor, são vossas obras, e que sabedoria em todas elas! Encheu-se a terra com as vossas criaturas: ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande!”. Oramos para agradecer, para exprimir nossa gratidão por tudo que temos e somos. Oramos para pedir, porque somos necessitados do Seu Amor e da Sua Misericórdia.
“É preciso crer, é preciso ser desse Deus que fez o céu e fez o mar...”. Confiemos em Deus, na certeza de que Ele não só faz a sua parte, como providencia as condições para que também nós façamos a nossa. O ser humano precisa entender que confiar sua vida a Deus em nada diminui sua liberdade, sua capacidade e sua “grandeza”. Deus é companheiro p'ra todas as horas. Sempre nos fará bem partilhar nosso viver seja praticando a solidariedade que nos torna todos irmãos, seja contando com nosso Pai e Criador. Alegrias e tristezas, vitórias e fracassos, saúde e doenças, dores e sofrimentos, tudo interessa a Deus; não são raros os momentos “pesados” de nossa vida; as angústias e as indecisões podem ser amenizadas pela Providência Divina.
Basta-nos então a Oração? É evidente que não. Nada vai substituir as nossas responsabilidades perante a vida. Mas é preciso repartir, ninguém agüenta tudo sozinho. É muito bom contar não só com Deus, mas também com os outros. Alguém que apoiasse sua vida unicamente em suas ações, seria imprudente, orgulhoso e cairia num ativismo inútil.
Como dizia São Paulo: devemos sim orar pela colheita, mas isso não nos dispensa de limpar a terra e semear.
A oração não tira a nossa responsabilidade na busca de soluções para os desafios da vida. Se, de um lado podemos contar com a ajuda de Deus, de outro é Ele que conta com o nosso empenho. Somos parceiros, mas muitas vezes acabamos exploradores, esperando que Deus faça também a nossa parte.
É muito mais fácil aceitar nossa realidade e fugir de ser uma “ilha” e ser “parceiros”, construindo pontes que nos levam a Deus e aos irmãos.
Vivemos tempos atrapalhados, de muita miséria material, humana e, sobretudo, espiritual. A “voz da sereia” grita por mais ação e menos oração; “o trabalho há que resolver tudo”; “a miséria precisa de pão e socorro mais que de conselhos e orações”, garantem. Será?
Nem oração sem ação, nem atividade sem prece. Não se deixar vencer pelo utilitarismo, pelo instantâneo. Sem dúvida, a ação é necessária para o progresso e para a felicidade dos povos, mas não basta.
Quando proclamamos a importância da oração, não é com o intuito de quem pretende esperar da oração aquilo que só o trabalho pode conseguir. Por exemplo, a ordem sempre será: estudar para a prova e depois rezar.
Para Santo Agostinho: “A oração de súplica não tem a finalidade de instruir Deus, mas de construir o homem”.
A oração é, sem dúvida, um lubrificante para a nossa vida, em especial da vida conjugal, trazendo segurança e afastando muitas das crises de relacionamento. A oração converte, fortalece a nossa fé e ajuda nas decisões. Afasta a solidão pelo convívio com Deus.
Além de tudo a oração destrói o orgulho, a inveja, a preguiça, o egoísmo, o rancor, a mesquinhez, a hipocrisia, a inautenticidade...
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