Publicado: Sexta-feira, 28 de março de 2008
Acomodados e Muralistas
Ouvindo a homilia do segundo domingo da quaresma, apreciei as palavras do pregador quando afirmou que todos se acomodam: os bons na sua vidinha de não prejudicar ninguém ou de não praticar qualquer mal, os maus em seus costumes pecaminosos e nocivos.
Continuando fez referência à transfiguração de Jesus no monte Tabor, onde numa magnífica visão pré-celestial, São Pedro, querendo se acomodar naquela esplendorosa situação, se dirigiu ao Mestre consultando-o se não deseja que construa ali três tendas, uma para Ele, outra para Moisés e outra para Elias. Mas, envoltos por uma nuvem, logo caíram em si (Pedro, Tiago e João), tendo noção que estavam na terra e com missão a cumprir.
O pregador também mencionou Abrão que, apesar de acomodado em sua idade avançada, foi convocado pelo Senhor à conduzir o seu povo para a terra prometida.
Com isso, entendemos que não podemos considerar a vida aqui na terra como definitiva e nos acomodarmos após eventuais conquistas ou superações, inclusive usufruindo aposentadoria, mesmo considerada como oportuna e merecida.
Aqui nos encontramos para cumprir a missão que o Criador nos destinou e em quanto vivermos, a qualquer momento, poderemos ser convocados para executar tarefas inesperadas. Na pregação referida inicialmente o, digno sacerdote, entre outras considerações, salientou que o cidadão comum, constituindo o povo, também vai se acomodando com tudo que acontece no país, inclusive com as exacerbadas malandragens “peculiares” da política moderna, etc.
Aprofundando a reflexão, lembramos da passagem evangélica constante do Apocalipse de S. João “mas porque és morno, e nem frio e nem quente começarte-ei a vomitar da minha boca” (Ap. 13,16). A problemática, então, nos ensina a tomar atitudes. E essas atitudes, necessariamente serão do lado do bem, ou seja, daqueles que as tomam seguindo as regras da lei natural ínsitas na consciência do homem.
Lavar as mãos como Pilatos, se tornar muralista, ou seja ficar em cima do muro apreciando a disputa dos antagônicos e se rejubilando com a vitória de qualquer um, evidentemente é comportamento de frouxos ou pusilânimes, impróprias à dignidade do ser humano.
Não devemos nos acomodar com eventuais situações em que, aparentemente, nada mais se pode fazer, considerando-se tudo como absolutamente desnecessário, pois tal posicionamento revelaria que não cogitamos da vida futura, a atual aqui na terra nos satisfazendo plenamente.
Passaríamos, portanto, a abalar a crença que cultivamos durante toda a vida de aguardar a feliz eternidade, com isso passando a caminhar no sentido de vir a abraçar o agnosticismo.
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