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Publicado: Sexta-feira, 3 de julho de 2015

Águas tranquilas

Águas tranquilas
Escultura de Yinka Shonibare na praça Trafalgar Square, em Londres

Um barbante o despertou ao lhe atravessar as entranhas, armando lentamente sua estrutura: o mastro veio imponente e trazendo o contra-estai, a retranca se estabilizou, e as velas se aprontaram tesas. O homem envolveu o fio na ponta do pau da bujarrona, dando algumas voltas, e trancou com um nó. Ele finalmente se via erigido; honrado. Um levante de euforia lhe acometeu desmedidamente, pulverizando fantasia e furtando-lhe a sanidade. Não viu a vidraça o qual estava inserido, tampouco notou a ausência do aroma das marés. Não percebeu a fragilidade de suas cordas, nem a infantilidade de sua mastreação. Não se deu conta que o estaleiro era uma garagem bagunçada da periferia, muito menos a falta da correria das centenas de pessoas lhe operando. Sequer notou o silêncio no lugar dos rangeres de aço e apitos de alerta do guindaste. Olhou para a frente e se encantou com o Sol nascendo no horizonte, feito do fundo da rolha que tapava a garrafa, lacrando seu destino. Agora navega águas tranquilas.

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