Publicado: Quarta-feira, 11 de março de 2009
Além da inércia
Acordei, abri os olhos de sono, coloquei um pé na frente do outro e disse a mim mesma: hoje eu vou! Fui, e vi que ir é bem melhor do que ficar. Mas nem por isso será fácil acordar amanhã novamente e empreender a mesma atitude. A inércia é um bichinho folgado.
Temos uma lista cheia de coisas que queremos fazer e não fazemos. Algumas delas são muito importantes para a saúde física e emocional. “Quero fazer exercício físico. Quero parar de fumar. Quero me alimentar melhor. Quero meditar. Quero aprender futebol ou violão”. São muitos os quereres.
Outras vontades são apenas carinho para o coração cansado, como abrir tempo para ir ao cinema, fazer uma viagem, ouvir música, ver o pôr-do-sol. A poesia existe, nós é que estamos cegos e surdos...
Vencer a inércia é talvez uma das maiores dificuldades do ser humano. Passamos o dia fazendo, fazendo, esquecendo, esquecendo. Fazemos o que esperam de nós, mantendo a engrenagem da rotina inquestionável andando apressadamente. Quanto maior a velocidade, maior a anestesia. Esquecemos que a vida nos sorri e que podemos sorrir para ela também.
A inércia é também poderosa porque tem muitos amigos: medo, acomodação, desculpas esfarrapadas, arrogância, preguiça. Uma turma grande que é difícil de enfrentar!
E acabo chegando à humilhante conclusão de que toda essa turma mora em mim, aqui, bem dentrinho! Não posso dizer que são os outros, que não fiz porque não me deixaram. No meu íntimo sei que tudo aquilo que eu deixar de fazer é de exclusiva responsabilidade minha. Se eu não realizar meus sonhos, se eu não cuidar da minha saúde, se eu não mudar o que precisa ser mudado, é simplesmente porque a inércia se tornou maior do que o meu desejo e força de vontade.
Talvez por isso nós sabemos tanto e fazemos pouco. Porque saber apenas não adianta. Se fosse assim, a humanidade seria bem mais feliz. É preciso aprender a vencer a inércia diariamente, transformando cada passo em gestos de lucidez. É urgente aprender a ser guiado pela luz da vontade e não pela sombra dos boicotes.
Para além da inércia há um mundo que espera por nós. Ultrapassá-la é desafio para toda uma vida. Nas horas mais difíceis, lembro de uma frase que o meu pai gosta muito:
Se eu não for por mim, quem será?
Se eu for só por mim, quem sou eu?
Se não agora, quando?
Com esse escudo em punho e o coração na mente, sigo vivendo.
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