Publicado: Segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Alfama é fácil de amar
Depois de tanta turbulência trazida pela “globalização” me deu vontade de falar sobre um lugar onde parece que o tempo parou, ou onde nos sentimos um pouco no passado, que é Alfama, o mais antigo e típico bairro de Lisboa.
O seu nome deriva do árabe “al-hamma”, que significa banhos ou fontes. Alfama e arredores foram bairros que surgiram ao lado do Castelo de São Jorge. Por isso possui vistas espectaculares sobre o rio Tejo dos seus diversos miradouros.
É um bairro muito especial, parece uma antiga aldeia onde as pessoas se conhecem umas às outras e se cumprimentam diariamente.
No âmbito internacional é conhecido pelas suas casas de fado, restaurantes e, principalmente pelos festejos dos Santos Populares, em especial na noite de Santo António, padroeiro de Lisboa, de 12 para 13 de Junho. Essa é uma noite muito esperada pelos lisboetas, que a vivem intensamente, como os brasileiros vivem o carnaval, se quisermos fazer uma analogia. Nessa época os bairros típicos se enfeitam com bandeirinhas, mastros decorados, muita sardinha assada e sangria! O céu de Lisboa veste-se de uma fumaça “assardinhada”! É, particularmente, muito divertido! Os arraiais animam-se com os bailaricos ao som de músicas populares! É a época dos manjericos e do calor lusitano! Pela Avenida da Liberdade, uma das principais de Lisboa, desfilam as Marchas Populares dos bairros típicos, sendo um bairro vencedor do ano. É uma tradição que atrai inúmeros turistas pelo folclore que envolve, bem como pelo sentimento tradicional.
Junto a Alfama temos a Mouraria, um bairro muito voltado as tradições, e ao mesmo tempo, um ponto de encontro de gentes de diferentes culturas,como se pode confirmar com a existência de várias casas de fado, bares, tabernas e coletividades culturais e esportivas juntamente com estabelecimentos comerciais de origem chinesa e indiana, entre outros.
Entretanto, apesar de não haver mais casas mouriscas, o bairro conserva um pouco do ambiente, com suas ruas estreitas, escadarias e roupa a secar nas janelas. Há em curso um processo de recuperação das áreas mais degradadas, e a vida desenrola-se em volta das pequenas mercearias e tabernas.
O nome Mouraria deve-se ao fato de D. Afonso Henriques, após conquistar Lisboa, ter destinado esse lugar da cidade para os muçulmanos. Nesse bairro permaneceram os mouros após a Reconquista Cristã, assim como os judeus, que também foram confinados aos bairros do Castelo.
Neste e nos bairros circundantes originaram-se as primeiras produções de arte mudéjar portuguesa, abrindo espaço para o surgimento do Manuelino.
O lamento e melancolia dos seus cânticos deram origem ao Fado. Na Rua do Capelão, junto ao Beco dos Três Engenhos, nasceu Maria Severa Onofriana, primeira fadista portuguesa e expressão máxima do fado à época.
A Rua do Capelão faz parte atualmente da iconografia do Fado. Mais acima, numa casa cor-de-rosa, da Travessa dos Lagares, cresceu Mariza, a mais internacional fadista portuguesa da atualidade (sem nunca esquecermos de Amália Rodrigues). Junto à casa, agora fechado ao público, localizava-se o Restaurante Zalala, onde ela aprendeu a cantar.
Por essas e outras histórias de tradição, cultura, solidariedade entre as comunidades, penso que vale a pena nos afastarmos um pouco do modernismo para tomar um fôlego, apanhar um ar fresco, recuperar energia e então voltarmos ao nosso dia-a-dia “ultramoderno “ultratecnológico”, acompanhar o sobe e desce das bolsas da sociedade global, sabendo que em algum cantinho, a poucos kilometros ou metros de nós, existe um lugar que pode nos acolher e que não tenha televisão, mas sim uma boa xícara de café e alguma história antiga para nos reconfortar.…
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