Alice
Desembarcou na rodoviária e saiu arrastando a mala cheia de roupas velhas e tenras memórias. No bolso, os últimos trocados de sua fortuna. Ainda na plataforma, um homem lhe ofereceu ajuda com a bagagem, ao que ela aceitou mas, distraída, não notou que estava uniformizado; teve que desembolsar algum pelo serviço. Quando ele se despediu no calçadão, ninguém a esperava a não ser o olhar famélico de sua cidade. Primeiro um rapaz maltrapilho abordou-na contando o triste fim de sua carreira na ponte aérea. Sensibilizada, deu-lhe algumas moedas. Ela sequer havia retomado a caminhada quando uma velha lhe tocou o cotovelo e, lacrimejando, estendeu um pedaço de papelão com bilhete que descrevia sua rara doença. Depois de ler tomou de sua carteira uma nota e lhe ofertou. Deu mais três passos e uma mulher se aproximou com uma criança no colo, mas antes que a pobre abrisse a boca, desabafou: "Eu não posso ouvir sua história, moça, pois acabou meu dinheiro. Onde compro essa boneca que está usando?".