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Publicado: Sexta-feira, 7 de outubro de 2005

Amar mais

Fiz um pacto comigo mesma de amar mais.
Por incrível que pareça, amar mais é mais difícil com as pessoas que mais amamos. Dos mais amados esperamos coisas, ações, gestos, reconhecimento, palavras, sorrisos e infinitas demandas de nossa lista sem fim. Por conhecê-los e amá-los, nos julgamos no direito de esperar que sejam e façam o que queremos. Então, amar mais fica quase impossível, logo no primeiro gesto não correspondido ou palavra não aceita.
Amar mais é colocar na frente o sentimento mais profundo e deixar em segundo plano as lamúrias cotidianas das expectativas não preenchidas.
Amar mais, em vez de reclamar mais.
Amar mais, como uma atitude de cura e reconstrução. Pode ser um remédio para muitos males. Pode acolher um coração inquieto, abraçar um corpo cansado, sorrir um gesto de esperança.
Amar mais tem gosto de inacabado, porque quanto mais se saboreia, mas se quer.
Amar mais... será quantidade ou qualidade? Talvez as duas coisas, uma espécie de ponte entre o nosso coração e o coração de outra pessoa, abrindo conexões inexplicáveis e inimagináveis.
Amar mais é transbordar sem afogar, abraçar sem sufocar, pedir sem esperar, expressar sem criticar, ouvir sem revidar, compreender sem depender, aceitar sem julgar.
Amar mais é desprender-se, largar a âncora que não deixa nossa vida navegar em mar aberto, por medo de perder o rumo e sucumbir. Quando escolhemos esse caminho, deixamos de lado as mazelas e infortúnios e assumimos a parte que nos cabe nessa vida: aprender a amar. Estamos aqui para isso.
Não dá para amar mais sem o risco de se perder. Ao escolher essa rota já estamos perdidos no horizonte infinito e escuro da nossa alma. Porque amar mais pede uma das coisas mais difíceis de fazer: desprendimento e desapego. É necessário largar nossas crenças momentaneamente, nossos hábitos tão arraigados, nosso padrão de comportamento tatuado em nossa voz. Abrimos um mar por onde passa a seiva da vida e, conectado a ela, plantamos novas sementes dentro e fora de nós.
Quando conseguimos por breves instantes mergulhar nesta fresta entre o aprendido e o possível, sentimos o gosto da liberdade. E amar mais passa a ser a única forma de viver e valer, o único caminho para ajudar uma pessoa querida. Percebemos que atrás de nossa impotência esconde-se um poder pessoal intransferível, que só a nós cabe usar. Nos damos conta de que somos seres transformadores.Ao descobrir esse poder através do ato de amar mais e da atitude serena que acompanha essa escolha, o nosso ser se transforma. A terra seca se fertiliza e floresce. Então podemos sorrir e agradecer.

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